quarta-feira, 28 de julho de 2010

Patriotismo e escrete nacional

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Dou-me conta, inicialmente, de que as idéias que aqui vou me permitir dissecar podem estar em confronto com uma certa “sacralidade” ou “intocabilidade” que cercam o conceito do patriotismo.

Patriotismo foi associado, durante muitos séculos, com as idéias de bravura, heroísmo, dever cívico e moral, quase um dever religioso com o apoio incondicional das igrejas.

Indiscutivelmente, algo extremamente pragmático – e impensável de não ser incondicionalmente adotado - em tempos em que os países mantinham guerras praticamente permanentes com seus vizinhos.

Mas, em primeiro lugar, vamos nos perguntar o que é patriotismo.

As definições mais comuns são versões de “amor e devoção à pátria”. Fico muito intrigado com estas definições que pretendem explicar algo, com conceitos mais difíceis ainda.

Pois o que é amor? Algo com uma multitude enorme de conotações. Desde uma conotação de ligação erótica a outra pessoa (antigamente, do sexo oposto) até formas indefinidas de emoção ou sentimento, e variadas formas de afeição e paixão. O amor muda de conceito radicalmente conforme seu objeto : amor familiar (paternal, fraternal); amor à arte, amor pela humanidade, chegando às formas religiosas de caridade e compaixão.

Quase tão complexo é o conceito de pátria.

Era simples na Idade Média. Era o lugar dos nossos pais, onde nascíamos, vivíamos e morreríamos. Um lugar com sua língua e suas tradições, e freqüentemente sua religião. O sentimento de pertinência era bastante preponderante nestas condições.

Hoje, a coisa mudou completamente. Com as correntes migratórias e a miscigenação cultural, as enormes variações locais, e as influências cada vez maiores da globalização tecnológica, é difícil dizer o que é a “terra dos nossos pais”. Um país como Brasil é bem típico. Um pais que sempre adotou o emigrante e que o emigrante sempre adotou.

Mas enfim, o que representa o conceito de pátria para um habitante da megalópole de São Paulo, com uma cultura totalmente amorfa? E como comparar este conceito com regionalismos típicos do gaucho o do nordestino? Ou ainda dos habitantes da selva amazônica ou dos cerrados goianos?

Qualquer tentativa de definir ou ver alguma uniformidade nestes conceitos me parece totalmente vã.

Como estão as coisas, patriotismo hoje se limita a um sentimento difuso de orgulho pela nacionalidade.

A única coisa concreta na definição “amor e devoção à pátria” á a devoção, a dedicação. Que me parece que é o que mais falta hoje ao patriotismo “moderno”. A ação em prol da pátria. Reclamar, muita gente reclama, mas poucos, muitos poucos se dedicam a causas sócio-políticas em prol do progresso da nação e da coletividade.

Este assunto todo surgiu portque em uma das partidas da Copa (antes do Brasil perder), ouvi alguém reclamar de outro que não estava presente : "Este nosso amigo não tem o menor patriotismo. Não dá a mínima se o Brasil perde ou ganha!"

A seleção de futebol não é o Brasil. Nem um símbolo da Pátria. Torcer pela seleção é um ato perfeitamente legítimo dos aficionados pelo esporte. Mas não é uma manifestação de patriotismo.

Confundir "a torcida pela seleção" como sendo uma forma de patriotismo pode ser bastante leviano se a pessoa achar que torcendo pelo escrete nacional, já cumpriu seu dever de patriotismo.

Alias, por falar em escrete "nacional", tambem deve-se dar conta que ela é composta por uma maioria de "ex-patriados", que pode explicar porque o público reclama tanto que os jogadores já não suam tanto a camisa, nem defendem as cores nacionais com mais afinco!!!

domingo, 18 de julho de 2010

Projetos

. Just this once
. The gateways to the skies
. Our final days
. Um tigre entre as gazelas (um gato entre os pombos)
. O mundanismo nas religiões

. Patriotismo e escrete de futebol
. O futebol - uma religião pandemica
. A retórica do amor
. A cultura do passado
. Beyond borders - a cultura universal
. O mal-amado
. Individuo e coletividade