terça-feira, 26 de julho de 2011

O silêncio tanatológico

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Lembro de uma cena de um filme do Herzog, que termina com uma imagem impressionante de um gramofone tocando uma ópera, a pleno volume, no meio do deserto ... A câmera vai se afastando e mostra um deserto totalmente inabitado, ninguém ouvindo e o som se diluindo e desparecendo, até se estabelecer o completo Silêncio ...

O som só existe porque os homens o ouvem ...

O Silêncio é a ausência de Humanidade. É a ausência do Homem.

Ou seja a Morte que provem do desaparecimento do Humano.

Será a Morte portanto uma forma do Silêncio?

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quinta-feira, 7 de julho de 2011

O Olhar saudoso do Sorriso

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Poema incompleto
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segunda-feira, 4 de julho de 2011

Amor VII

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O problema maior com a palavra "amor" é que quer dizer um montão de coisas para as mais variadas pessoas e frequentemente, várias coisas ao mesmo tempo ... senão vejamos ...

Existe amor filial, maternal, fraternal, cristão, humanitário, etc ... Existe um amor pelas idéias e pelos ideais. Existe um amor devastador pelo conhecimento, pela beleza, etc .... Vamos excluir estes de nossa discussão, não que não sejam importantes, apenas vamos tentar nos focalizar sobre o que chamo de amor-eros, eros entendido em um sentido bastante genérico como o amor entre os dois sexos. (Eu estou - calculo - eliminando o amor homossexual desta definição mas este é muito complicado para mim : simplesmente admito não entender claramente)

Mesmo se limitando ao amor-eros, existem uma série de componentes envolvidos, atração sexual, amizade, objetivos em comum, apoio emocional, etc ... não poucas coisas ... e certamente não das mais simples ...

Lembro de um livro lido há uns 20 anos atras, do Rollo May (Love and Will) onde ele discute justamente o amor-eros. Começa com o sexo e atração sexual onde ele diz que é primário, instintivo, algo que morre em si mesmo. Fala em seguida do amor-gostar, o aspecto egocêntrico do amor. Fala do amor-paixão, aquilo que se nutre em si mesmo e quer cada vez mais do outro. Fala do ágape ou amor-amizade. Enfim fala do amor-doação que quer o bem do outro. Escrito de modo muito solto, embora com um poderoso embasamento psicológico.

Tratar de todos os assuntos do livro, seria exaustivo... apenas queria fazer uma contraposição entre o amor-sexo e o amor-paixão.

O sexo, a atração sexual é sempre o que vem em primeiro lugar. Não que seja o mais importante, mas o que chega na frente. Quando a gente conhece uma pessoa, é o aporte dos sentidos que funciona em primeiro lugar, o visual, o auditivo, o toque ... o resto vem mais tarde. Sexo é vastamente uma questão de instinto. Como a fome. Quando a gente acabou de comer, a gente não tem mais fome. Sem exagerar demais no paralelo, quando a gente acabou de fazer sexo, a gente deixa de ter vontade de sexo. Pode ter vontade e desejo de outra coisa - carinho ou bater papo, por exemplo. Mas não mais do sexo em si. É isto que Rollo May chama de "morrer em si mesmo". {Possivelmente, por isto, o zé povinho, em sua "sabedoria" instintiva associou a palavra "comer" à atividade sexual}

Sendo o sexo aquilo que é, ele necessita de variedade para manter o interesse ... a promiscuidade sexual não é algo tão-inatural assim .... Não quiz dizer louvável ou desejável para o relacionamento, apenas quis dizer que o instinto sexual para se manter aceso requer renovação constante, senão morre rapidamente o interesse e a atração. O que se chama de amizade colorida (nome estranho, não?) é uma relação baseada na atração sexual. Cessando a atração, cessa tambem a relação. Tipicamente, as amizades coloridas (se diz "ficar" hoje, não?) são relações muito curtas ...

Não é de estranhar portanto, que casamentos baseados em atração sexual durem tão pouco.

Paixão. Gamar como diz o zé povinho ... Ah, isto é diferente. Quanto mais se tem do ser "amado", mais se quer! É uma relação emocional intensa que se nutre e aumenta e se aquece com a presença do outro. Irracional? Sim, indubitavelmente, porque inclusive a pessoa apaixonada perde o senso crítico, não enxerga propriamente o outro, mas o sentimento que nutre por ele. Não vê o outro como é mas conforme a imagem que criou em sua mente!

Motivo de felicidade? Nem sempre.

Nunca o que se tem do outro é suficiente! Se quer cada vez mais. O outro é incorporado à nossa personalidade, passa a ser textualmente, a nossa outra "metade". Uma ausência, mesmo temporária, pode parecer uma perda emocional irreparável. Se apossa do outro, usa o outro como muleta. A paixão é extremamente possessiva e tende a sufocar o outro ... especialmente, se o outro não nutrir um sentimento recíproco de igual intensidade, o que soi acontecer ... Os ciúmes são um sintoma característico deste amor-paixão e bem se diz, que se a pessoa não sente ciúme, não tem mesmo uma real "paixão". E não tem mesmo!

Alias, neste tipo de relação, o sexo em si não tem nenhuma imensa importância ... vai acontecer, é claro, mais como uma celebração da posse/entrega do que pelo prazer que deriva do sexo em si! E sexo pode até vir a faltar, que a paixão continua ... exemplo típico é do amor romântico ou das novelas medievais!

Uma relação de amor-paixão costuma durar bem mais que uma relação de amor-sexo, mas pode ser psicologicamente altamente destrutiva ... não há casamento que aguente se for baseado neste tipo de sentimento.

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Amor VI - Amor virtual?

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Como se pode amar uma pessoa virtualmente?

Está certo, já recebi críticas de ser cético, insensível e outros epitetos semelhantes .... não sou nem cético, nem insensível e certamente, não creio que não eu precise me sentir amado .... ou que não precise do carinho e das atenções dos outros à minha volta.

Ainda assim, não entendo como se pode "amar" uma pessoa que a gente não conheça pessoalmente, que a gente não tenha tocado, cuja voz nunca ouvimos, de quem conhecemos superficialmente os pensamentos, mas não sua capacidade de se relacionar com seus semelhantes, suas debilidades e achaques físicos, suas fraquezas e insuficiências emocionais, suas ambições ou ausencia delas, sua força ou falsidade de caráter, suas dúvidas e incertezas, .... enfim todo este elenco de coisas que somente podemos nos dar conta e reconhecer no convívio de uma pessoa ... o que leva as vezes, muitos anos para nos ser revelado, não é verdade?!

Porque amar uma pessoa é esta composição não totalmente explicável, complexa, de um sem número de fatores, onde entra a atração pessoal, a simpatia, a confluência de sentimentos, a cumplicidade das coisas que a gente gosta, o companheirismo nas atividades que se partilham, no respeito à personalidade e ao caráter, o carinho e o suporte que a gente dá, e que a gente recebe ...

Enfim, sem isto tudo, que é bem material, não se pode, a rigor, dizer que existe amor.

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Amor V

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Lembro de um artigo de uma psicóloga brasileira (cujo nome não guardei) que dizia que "amar é dar o que não se tem".

Típico marmanjo racionalista que sou, não entendi mesmo o que a psicóloga quis dizer com isto. Estávamos reunidos em um grupo de vários casais e submeti o axioma para discussão.

Sem muita surpresa, os homens não entenderam nada .... mas as mulheres presentes aclamaram quase por unanimidade que era isto mesmo a essência da coisa e que éramos, nós os homens, altamente insensíveis, sempre querendo entender as coisas ... mas nenhuma conseguiu explicar o que pudesse significar o aforisma (o desaforo, segundo um dos marmanjos presentes!).

E que eu, por sinal, continuo sem entender até hoje.

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Amor IV - Gostar vs Amar

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A grande maioria das pessoas confunde amar com gostar. Já cometi fartamente este erro e vejo muitas pessoas o cometerem também ...

Gostar é geralmente uma atitude egoísta , no sentido que se a pessoa gosta de alguma coisa, situação ou outra pessoa, é pela satisfação, prazer ou benefício que lhe proporcionam. Nem sempre estas satisfações são claras e evidentes, mas de uma forma ou outra elas estão sempre lá. Gosto de chocolate porque o chocolate me dá prazer, me nutre ou seja lá o que for. Gosto de Fulana porque ela é bonita {satisfação da minha vaidade}, faz sexo muito gostoso {satisfação física}, me faz carinho/ama muito {satisfação emocional}, ou faz tudo o que quero {satisfação volitiva}. - Este enfoque masculino é apenas um exemplo e está longe de ser uma manifestação exclusivamente machista; o enfoque feminino é exatamente igual em natureza embora mudem alguns aspectos externos! -

O gostar só encontra sua fidelidade, sua lealdade na permanência da satisfação Ou seja, a situação mais comum é se a causa da satisfação cessar, cessa o amor ou a amizade. Então, se Fulana cessar de fazer algumas das coisas que eu gostava, ou fica velha e feia, então cessa meu "amor" por ela. Estamos cansados de ver isto acontecendo à nossa volta e muitos casamentos desfeitos se devem a esta síndrome. A verdade é que se o "amor" acabou, o mais provável é que ele não existiu em primeiro lugar.

Este egocentrismo está bem presente, patente até, em inúmeras mensagens sobre o tema na Internet, muitas delas sob roupagem muito romântica, poesias, paisagens idílicas, anjos, nenens e animais fofinhos, etc ... Mas não escondem o fato principal : o amigo é definido como aquele que me socorre, é aquele que está presente quando preciso dele, que me conforta, que não me deixa sozinho, etc ....

Nunca as mensagens dizem o que eu devo ser como amigo, ou para o amigo, o socorro que devo lhe prestar, a minha presença em sua necessidade, etc ... Padrão claro desde que se deseja vê-lo, não é?

Um outro aspecto deste egocentrismo do gostar é a atitude típica sobre a exigência de retribuição ou reciprocidade : como é que você não gosta de mim se eu gosto de você? O tema do amor não-correspondido é o lamento mais freqüente entre os amantes, desde o tempo das cantigas medievais. É a queixa sobre os amigos que me traem ... ou seja sobre as pessoas que eu supunha que não iriam nunca faltar às minhas necessidades!

Parece tudo meio amargo, dito desta forma, mas não é necessariamente assim : o homem é gregário, ele precisa se sentir gostado e, em muitas personalidades, ele precisa também gostar. Funciona bem, como uma espécie de contrato tácito em uma troca muito satisfatória de apoio mútuo, um ombro-a-ombro que dá calor e até significado à vida. As vezes, dura uma existência inteira, em uma forma calma e confortável. Às vezes, dura poucas horas de enorme intensidade (amizade ou amor de viagem de navio!).

Por outro lado, pode até ser chocante afirmar que se pode amar sem gostar. Isto me lembra de um filme em que a esposa de um pastor lhe cobra isto. "Não quero ser (apenas) amada. Quero que v. goste de mim, que me deseje ..."

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Amar III

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A gente ama alguém, não porque este alguém merece, mas simplesmente porque nós o amamos! Não sei se as árvores e os animais, nossos irmãos, amam assim.

Mas seria a imagem perfeita do Perfeito Amor : amar sem ter consciência, amar sem saber que se ama, amar sem saber que é "bom", digno e elevado amar.

Simplesmente ser e amar!

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Amor II - ficar velho

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Je n´ai pas encore oublié la chaleur et le confort d´un corps ami, ni la douceur

d´un baiser avant de s´assoupir. Ni la tendresse qu´on garde dans nos rêves et

qu´on recueille quand on se réveille.

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Amor I

Dizia Sêneca que as palavras mentem ... Bom, se não mentem, pelo menos confundem ...

Tem coisas que são facilmente definíveis. Uma mesa é uma mesa. Haverá uma variedade de tamanhos, formas e propósitos .... mas ainda assim, existe um certo conceito relativamente estreito para incluir um objeto como mesa.

A coisa complica quando o objeto se torna mais complexo. Casa por exemplo. Que inclui desde uma tenda dos nômades no deserto a um igloo no polo, um barraco de favela e um palácio presidencial ...

Isto não é nada, quando comparado com conceito imateriais.

Amor é uma destas coisas.

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Veja lá : existe amor paterno/materno; existe amor fraterno; existe amor aos amigos (amizade); existe amor ao Saber; existe amor a Humanidade; existe o amor-caridade e amor-compaixão das grandes religiões; existe amor a Deus.

Existe amor entre homem-mulher. Que vai desde a simples atração física, passa pela paixão e as vezes, chega aos paroxismos da adoração e da obsessão. Em graus e doses variados. Mas que não dispensam uma certa amizade e camaradagem e uma boa dose de cumplicidade.

O que todas estas formas de amor têm em comum? Difícil de dizer. Fora que passam as eras e os homens continuam dizendo quão importante é, mesmo sem saber direito do que se trata!

Eu diria que uma grande parte é a componente sentimental (sentir-se em sintonia com a pessoa) mas é claro que existe uma componente emocional (gostar da pessoa) e uma componente volitiva (querer bem a pessoa) que é fundamental e que se manifesta em atitude e não fica só ao nível da emoção.

O amor busca a retribuição, não resta dúvida; mas para amar, não parece absolutamente necessário ser correspondido. O amor deveria ser coisa completamente altruísta e desinteressada ... mas existem muitas componentes egocêntricas nas diversas formas que o amor assume.

Gostar, p.exemplo. A gente gosta de chocolate porque ele nos proporciona satisfação e prazer. Do momento que o chocolate não nos proporciona mais prazer, a gente não gosta mais do chocolate. Patente, neste caso, que gostar é algo profundamente e radicalmente egoísta!

João gosta de Maria porque ela é bonita, satisfaz sua vaidade, lhe faz companhia, é agradável com ele, transa satisfatoriamente, lhe faz cafuné e lhe traz carinho e consolo, lhe dá suporte e incentivo, cuida dele e o ajuda, etc ... Não vou ficar enumerando porque uma pessoa pode gostar de outra, haverá mil razões. Mas o fato é que cessando uma ou mais destas razões, (por exemplo, quando a Maria fica velha e ranzinza) a pessoa deixa de gostar da outra, como se esta outra estivesse a lhe subtrair um direito. Quantos casos semelhantes a este você viu?

Porque gostar apenas, não é amar. E se o "amor" acaba, é provável que ele nunca existiu em primeiro lugar.

Amar é gratuito. Não precisa que o outro faça alguma coisa ou se comporte de alguma maneira. Uma mãe que ame realmente seu filho, vai amá-lo mesmo que ele seja um bandido ou que a maltrate ou que a ignore totalmente.

Inversamente, ninguém é levado a amar automaticamente o outro, só porque este outro o ama, goste dele e lhe tem devoção e dedicação ou o trate com mimos e fervor. Ao contrário, quando não é retribuído, o amor de outra pessoa pode ser algo muito importuno e ser causa de desprezo e desdém!!

E o grande drama advém justamente disto : a grande maioria das pessoas quando diz que busca o amor, na realidade, busca ser amado e não necessariamente, uma pessoa para amar. Daí, as frustrações, as dores, os desentendimentos, os sofrimentos, os desenlaces, as separações, os divórcios, etc ...

Falar sobre o amor

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Falar sobre o amor, eu?

Tenho por mim que muitos de meus conhecidos, parentes e amigos, me consideram alguém um tanto sisudo, pouco falante ou comunicativo, não muito dado a grandes papos ou "amizades", de certa forma, uma pessoa um tanto fria e não-emotiva.

Sou meio fechadão, sim. Também é verdade que preciso de meus momentos de sosinhez. Mas não curto a solidão, nem odeio meus semelhantes!

Mas sou um bom observador, com aceitável senso analítico e tenho uma dose razoável de percepção intuitiva das motivações dos meus semelhantes.

Por isto, considero que posso escrever sobre o amor, mesmo que aparentemente não mostre grandes arroubos sentimentais.
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sábado, 2 de julho de 2011

Madrugada de insônia

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O pior da insonia na madrugada é a sensação irrevogável de solidão diante da televisão.
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sexta-feira, 1 de julho de 2011