terça-feira, 23 de outubro de 2007

Um mais um nem sempre é igual a dois.

Exemplos :

Dois monólogos não equivalem a um diálogo.

A solidão a dois pode ser muito, mas muito maior.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

O amor exige retribuição?


"Não se deve amar sem ser amado. É melhor morrer crucificado"

Uma atitude típica do gostar e da paixão é a exigência de retribuição ou reciprocidade : como é que você não gosta de mim se eu gosto de você? O tema do amor não-correspondido é o lamento mais freqüente entre os amantes, desde o tempo das cantigas medievais. É a queixa sobre o "amigo" (leia-se amante, em termos modernos) que traiu o amor que se lhe dedica, não necessariamente por uma infidelidade, mas por faltar em corresponder às expectativas que se tem dele
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Vi muita gente sofrer por amor não-correspondido, rejeitado, incompreendido, ou por assim dizer, aplicado à "pessoa errada" (aquela que não corresponde). E é neste tipo de condição que se afirma que a pessoa é "infeliz no amor" e é quando surgem os ciumes, as inseguranças pessoais, as frustrações e os conflitos.

E para complicar a situação, temos que lembrar que o amor é total, absoluta e irrevogavelmente ilógico. Da mais pura irracionalidade... Não precisa do tempo ... e certamente, não espera o menor pingo de incentivo para acontecer ... Quem é bêbado, olha na volta e vê todo mundo bêbado também. Quem está apaixonado é quem nem bêbado ... não consegue entender como o outro possa não estar apaixonado
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Podemos corresponder - podemos querer e nos levar a corresponder - ao carinho, ao respeito, ao entendimento em uma relação amorosa (adulta e consentida). Mas francamente, não consigo acreditar que uma nossa paixão por outra pessoa garanta (ou gere) uma paixão equivalente desta outra pessoa por nós. Não consigo me imaginar sentindo uma tal "obrigação", nem que ninguém possa vir a sentir.

Reconheço que o que vou afirmar é uma visão tipicamente masculina : tenho percebido muita mulher cobrando do homem a quem ama, este tipo de reciprocidade, mas tenho certeza que as mulheres são as primeiras a não se sentirem nem um pouco induzidas a retribuir uma paixão que lhe é dedicada – embora possam até se sentir lisonjeadas com o sentimento que provocam.

Ou por outra, podem até conservar em segredo, uma certa ressentimento contido (ou até manifesto) pela pessoa – por mais méritos pessoais que possa ter - que veio ou quer "usurpar" o lugar, a intensidade ou fervor, da sua verdadeira e original paixão em seu coração?

Alias, por falar em méritos pessoais, gostaria apenas de citar, de passagem, que não há nada, absolutamente nada que uma pessoa possa fazer para conseguir a paixão de outra pessoa, que não estivesse lá, em primeiro lugar! E quanto mais fizer por merecer (neste caso, pode até ser qualificado de "assédio"), o mais provável é que venha a ser desprezado e até hostilizado por tentar se apossar de um sentimento sobre o qual "não tem direito"!

O amor sempre é recebido de presente. Podemos conseguir a simpatia ou a gratidão de outra pessoa, o seu respeito, por nossas atitudes. Amor-paixão, nunca. Pois a paixão é algo muito primário, vem de nossas entranhas, tem enormemente a ver com o afloramento do nosso inconsciente, bem menos "controlável" que o amor fraternal ou familiar, a amizade, o amor devotado de um casamento estável, etc ..
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Inversamente, é só olhar a nossa volta e verificar quantas pessoas são amadas apesar de seu comportamento e de seu merecimento, filhos cruéis e bandidos que têm o amor de sua mãe, até o último alento; mulheres que continuam amando seu homem apesar dos maus tratos; ou homens que adoram sua mulher apesar de todas as traições que recebem, e outros tantos exemplos de menor dramaticidade.

Precisamos nos conscientizar da verdade que não existe lógica neste assunto de amor ou na sua falta : ou a gente ama alguém ou a gente não ama, pronto! É tão simples assim. Não encontrei ninguém que me explicasse como uma pessoa pode vir a amar alguém que não amava em primeiro lugar espontaneamente, nem como pode ser induzida a - ou treinada para - aprender a amar alguém específico.

Mas não nego que possa existir reciprocidade, e com relação a isto, existe uma boa e uma má notícia. A boa notícia é que o amor genuíno pleno é uma graça dada pelos deuses. A má notícia é que são eles que dão esta graça, não se sabe bem como decidem, mas parece mais uma destas coisas que a pessoa não pode fazer nada a respeito. No fim das contas, o amor correspondido é algo muito, muito raro ... como já disse, reservado para uns poucos eleitos .... tanto é que para estes poucos eleitos, os Romeus/Julietas ou Tristãos/Isoldas, é que se escreveram romances e poemas para serem inscritos nos anais da Humanidade.

Considero privilegiadas as pessoas que tenham tido a fortuna de uma verdadeira paixão em sua vida. Retribuída ou não. O resto, a grande, a enorme maioria, apenas se ajeita ou se acomoda com uma relação de conveniência, que, bem ou mal, freqüentemente se converte em uma relação de camaradagem, que espanta os infortúnios da solidão a que estamos todos sujeitos!

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Mas afinal, o que é esta tal de paixão? (3)

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Em terceiro lugar, vem o que se poderia denominar de querer bem. Ou seja querer o bem do outro, querer o bem para o outro. Ao inves de (apenas) exigir uma satisfação sexual ou passional do outro.

Querer bem é uma expressão muito feliz em português que não existe em outros idiomas. Ressalta a função volitiva, a disposição natural e espontanea de afeto, devoção e dedicação ao outro. Não é um sentimento que morre, é um sentimento que constroi.

Não se faz uma relação duradoura ou um casamento feliz e estável sem este querer bem. O casal não precisa se privar de sexo ou não sentir um pouquinho de ciume do outro, .... mas sem este querer bem, a relação não vai para frente.

Vão me dizer que este sentimento é muito parecido com a amizade, com o amor paterno ou materno, etc .. . E é mesmo, não resta dúvida. Mas tambem, hão de reconhecer que o querer bem entre um homem e uma mulher é algo muito particular, muito especial.

Vocês já devem ter visto algum casal de velhinhos, de mãos dadas, radiantes, felizes apenas por estarem juntos. Não é a memória de maravilhosos momentos íntimos, embora os possa ter havido. Mas é a marca da afeição, da ternura e da camaradagem. Eles conseguiram substituir a paixão pela amizade, por um companheirismo tão forte que o tempo juntos lhes transfigura as feições e os torna surpreendentemente parecidos. Assim quase como dois irmãos.

A paixão, sozinha, não pressupõe o querer bem. A paixão pressupõe o ciume, o mêdo de perder o que se considera como algo que lhe pertence, que é seu de direito, como uma propriedade ou coisa parecida. Mas a verdade é que ninguém pertence a ninguém!!

Mas afinal o que é esta tal de paixão? (2)

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Em segundo lugar, vem a paixão. Paixão é o campo do desejo de um pelo outro. É muito voraz, quanto mais tem, mais quer. Contrariamente à atração sexual, a paixão se nutre em si mesma.

Vejam bem, não que um casal apaixonado não façam sexo. Fazem, sim, por ser a natureza humana o que é. Com a proximidade física e emocional, o estímulo e a oportunidade crescem, é claro. Mas a paixão precede o sexo, de uma certa maneira. Vem antes ... o sexo segue como simples consequência. E pode ser muito bom, diga-se de passagem.

A paixão, contudo, ainda é muito egocêntrica. Quer tudo do outro, quer o outro inteiro. Para si. E quer cada vez mais. A paixão acaba quando o outro já não tem (ou não consegue) mais nada para dar! Suprema decepção!

A paixão é onde predomina o ciume, a possessividade. É algo natural a este tipo de sentimento.

E da paixão que tratam os romances quando falam de amor! Esta componente romântica é muito pronunciada. E extremamente valorizada nos filmes e novelas, e nas aspirações da juventude, em geral, mas sobretudo das mocinhas.

Ainda assim, paixão, sozinha, por mais intensa que seja, não é ainda amor. Pode eventualmente, evoluir para o amor, mas seus componentes egocêntricos, sozinhos, não permitem esta classificação.

Quem leu a Arte da Felicidade, do Dalai Lama, pode perceber como esta posição é claramente manifestada pelo autor, quando diz que "romance", (em inglês = sinônimo de "love affair") por mais gostoso que seja, não é amor.

Mas, afinal, o que será esta tal de paixão? (1)

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O que o dicionário nos ensina não nos leva a muito lugar. Mas sobressai que se trata de uma variedade de manifestações sentimentais ou emocionais, "levados a um alto grau de intensidade, sobrepondo-se à lucidez e à razão"


O que li de mais esclarecedor a respeito foi um livro de Rollo May (Love and Will) - Amor e Vontade. Analisa o amor, o Eros, entre o homem-mulher em três etapas.

Primeiro vem o atração sexual. Algo biológico e natural, um instinto que vem de mistura com algo vago definido como magnetismo pessoal. Um instinto fundamental à sobrevivência da espécie cuja satisfação se manifesta sob a forma de prazer. Como a maioria destes instintos de sovrevivência (como a fome, por exemplo), a componente prazer, está sempre presente. Talvez como um estímulo ao homem primitivo para se manter, ele e a espécie, vivos!

Para muitas pessoas, o amor não passa disto. O amor não é só isto. A atração sexual, como instinto, é algo que morre em sí mesmo, para usar uma expressão do Rollo May. Satisfeito o apetite, a pessoa não tem mais fome. Simples!! O amor baseado exclusivamente na atração sexual, tem uma tendência impressionante de não-durar. Exige variedade para manter o estímulo, que nenhum parceiro único consegue manter por muito tempo.

Apesar disto, o sexo tem uma função fundamental que é trazer o casal perto um do outro.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

De encontros e separações ....

Contrariamente às vidas paralelas que vivem lado a lado,
sem nunca se tocarem, num destino inumano e desalentador,
há vidas que receberam a graça do encontro.

Destino raro e breve, o do encontro.
Intenso, quente, vulcânico, arrebatador.
É de sua natureza, a empatia instantânea, mas também o embate.
Dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço.
Duas vontades não podem ocupar o mesmo destino.
As almas gêmeas - as que se conseguem se amalgamar -
acabam ficando cada uma com um destino truncado,
algo assim como meio destino
e nunca realizam sua sina.

Duas vidas depois de se encontrarem, se afastam
como as linhas secantes
porque tem rumo diferente
e a cada momento, se apartam cada vez mais.

É de seu destino a dor da separação.