sábado, 15 de dezembro de 2007

Carta Natalina aos meus Amigos



Acho os Cartões de Festas de Final de Ano uma tradição muito bem estabelecida e bem educada mas também muito impessoal e recheada de chavões.
Aos meus Amigos, prefiro uma carta pessoal .

O que lhes desejo para 2008?
Para 2008 e para todos os outros anos que seguirem, é claro!


PROSPERIDADE.

Não necessariamente apenas dinheiro. A falta de dinheiro não é boa, é profundamente humilhante e desumana : que o digam os que moram debaixo das pontes e nas favelas. Por isto, como não quero ver meus Amigos nesta situação, desejo-lhes dinheiro suficiente para tocarem decentemente sua vida. Mas desejar somente dinheiro (que é algo muito prático – mas profundamente artificial), não conduz a nada de mais em termos de realização humana.

O que lhes desejo é que procurem sinceramente em seus Corações o que é importante para cada um de vocês e para os que lhes estão próximos. E que encontrem em si mesmos a Fé, a Vontade e a Força para conseguí-lo e fazê-lo acontecer.

É este tipo de Prosperidade que lhes desejo. Assim como lhes desejo o tipo de Felicidade que a acompanha naturalmente.

Dos meus Amigos, eu desejo e preciso um bom Pensamento para me ajudar na minha busca e um Abraço carinhoso.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Os Natais de Antanho


Os Natais de minha infância, no Egito, eram bem diferentes dos que vejo hoje.

Fui criado na religião católica, uma condição de uma minoria, em um pais majoritariamente muçulmano. Havia outros credos cristãos entre os estrangeiros radicados mas por serem também minorias, havia uma intensidade mais acentuada na conservação dos nossos rituais e na preservação de nossa identidade.

Lembro da Missa a que ninguém faltava, das visitas que a gente fazia aos familiares, do presépio e da árvore de cuja montagem as crianças participavam ativamente, ouvindo as estórias sobre o Nascimento do Menino Jesus, a visita dos Reis Magos, a Fuga da Santa Família e todas estas coisas que iluminavam minha imaginação de criança.
E do presente – único - que cada criança ganhava e que por isto era aguardando com uma enorme expectativa e esperança!

Todos estes rituais, o presépio, a missa ... mantinham uma certa aura de sagrado que considero fundamentais.

O consumismo de hoje, o excesso de propaganda banalizou muito do Natal .... que se tornou apenas mais uma oportunidade de nos fazer gastar dinheiro!

Hoje, o Natal perdeu uma enorme parcela de sua "religiosidade" no processo.

Há quem diga que Jesus nasceu 6 anos antes, no final de Setembro, que a Igreja mudou a data, por conveniência política, para combater as festividades do solstício (saturnálias), etc ... Sabemos que certas tradições, como da Árvore, em realidade nada mais são que um prolongamento (ou adoção) de tradições pagãs, como também a figura de Santa Claus ou a troca de presentes.

Mas não foi isto, em particular, que ajudou a perder a sacralização da data .... foi realmente o comércio o maior golpe.

Substituímos a Reinado do Menino Jesus pelo reinado de Maimon, o Deus-Econômico! O Espírito não tem mais lugar neste nosso mundo, onde o único deus é o deus do dinheiro, do lucro e da posse.

Os templos modernos são os shopping centers. E Jesus seria certamente preso se tentasse – como certamente, tentaria - debandar os mercadores dos "t"emplos, não é verdade?

Nossos filhos e nossos netos têm um incalculável quantidade de brinquedos, não sabem nada da data a não ser que é uma ocasião de festas, comilanças e de um monte de presentes. O que ganharam em quantidade e sofisticação, não substitui a magia e o encanto que havia nos Natais de antanho.

Quanto ao significado espiritual do Evento, se já não era muito divulgado na época, certamente desapareceu quase por completo hoje em dia.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Ser águia e voar ...


Recuperado de um blog anterior


Alguém me escreveu "É difícil ser águia e voar. É preciso, às vezes, um esfôrço hercúleo".

Possivelmente, é por causa disto que na maioria das religiões antigas ou no xamanismo, existe o símbolo da águia como o da alma que se liberta .... É preciso um esforço hercúleo para a alma se libertar.

Se bem que num plano mais próximo, imagino que, sendo águia ou tendo asas, o importante, para voar, deve ser se soltar, ter coragem de se deixar ir com o vento ... assim um pouco como nadar : se não se soltar, não é possível flutuar ... É o medo que incapacita as pessoas de nadarem ou as águias de voarem ...
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Será que não existe aí um paralelo com a nossa existência humana .... não será o medo que impede as pessoas de viverem plenamente sua vida e alçarem "vôo"?

E talvez quem me escreveu tenha razão, no sentido que seja preciso um esfôrço hercúleo .... para as pessoas se soltarem ...

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Arte e mulher ...

Uma obra de arte não é um teorema : portanto não pode, como tal, ser entendida ou compreendida racionalmente.

Uma obra de arte deve ser sentida, pressentida, adivinhada, intuída, comungada. Ou a gente gosta de uma obra de arte ou não gosta. Ponto final!

No fim das contas, nossa relação com a arte é qualquer coisa com o coração mas nunca, nada com a cabeça. Para a cabeça, a arte é um contrasenso total.

Por isto tudo, uma obra de arte é essencialmente e profundamente feminina.

Uma mulher igualmente deve ser sentida, pressentida, adivinhada, intuída, comungada. Ou a gente ama uma mulher, e a gente sabe como ela é; ou simplesmente, a gente não ama. Esta história de tentar "entender" racionalmente uma mulher não tem a menor chance de funcionar!

E antes que me acusem de chamar as mulheres de irracionais - que eu não estou -, deixa esclarecer que o que estou dizendo é que não se pode conhecer uma mulher (ou qualquer amigo, pra dizer o certo) com a cabeça .... mas apenas com o coração.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Ensaio sobre a Cegueira (Final)

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Por favor, leiam em seqüência a partir do (1). Não comecem por aqui!
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Inacreditável. É tão óbvio que demorei até a metade do romance para me dar conta!

OS PERSONAGENS SEQUER TÊEM NOME. Não tem rosto. Não tem caracteríticas psicológicas. Apenas um sinal identificador como uma venda preta, óculos escuros ou um título.

Não são seres humanos, são personagens absolutamente IMPESSOAIS.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Ensaio sobre a Cegueira (4)

Frase interessantes

(13) hoje por ti, amanhã por mim, não sabemos para o que estamos guardados. Ficaria mais a nosso jeitão deste modo assim : hoje para você, amanhã para mim, não sabemos o que o futuro nos reserva ....

(16) cegueira é algo que se limita a cobrir a aparência dos seres e das coisas ....

(21) os cegos não vão ao oftalmologista .... também podemos dizer : os homens sem fé não vão à igreja

(23) se é certo que a ocasião nem sempre faz o ladrão, também é certo que o ajuda muito : por exemplo, é só entrar na política, não é?...

(26) os olhos mostram sem reserva o que tratamos de negar com a boca ...

(41) a morte também não se pega, e apesar disso todos morremos ... Já pensaram se a solidão fosse contagiosa? Daria um belo romance : O Ensaio sobre a Solidão!!!

Ensaio sobre a Cegueira (3)

O ser humano

Não existem "seres humanos" plenos que sentem ou vibram, apenas personagens superficiais do tipo de filmes americanos que expressam em palavras seus pensamentos e parecem totalmente desprovidos de sentimentos. Falta vida ao SalAmargo!

O próprio autor se encarrega de refletir isto especificamente no texto :

(21) não parava de perguntar-se como era possível que tão grande desgraça lhe estivesse a acontecer a ele. Aos ouvidos, chegavam-lhe os ruídos do trânsito .... {não durou muito sua emoção!!}
(37) estou cego, ..., com estas exactas palavras o pensou. {desespero mais linguistico!!)
(45) palavras .... pronunciadas pelo ministro, que mais tarde precisou o seu pensamento. (as palavras precedem o pensamento!!!)
(51) quero minha mãe, mas as palavras foram articuladas sem expressão. {um garoto que cegou separado da mãe!!}

Ensaio sobre a Cegueira (2)

Boçalidades literárias

(11) engorgitamentos da circulação automóvel, ou engarrafamentos, se quisermos usar o termo corrente {até ele, se deu conta!!}

(26) plebeiamente concluindo

Ensaio sobre a Cegueira (1)

Vocabulário do SalAmargo e seus lusitanismos

Há palavras que simplesmente eu não conhecia (tive que recorrer ao dicionário) e há palavras que não usamos ou que reconheci mas que soam estranhas. Por desejo do autor, foi mantida a ortografia vigente em Portugal .... mas a leitura - e a vendagem - seria bastante mais facilitada se permitisse usar um vocabulário mais comum no Brasil.

(11) embraiagem (!), encravar (entravar), blocagem dos travões (travamento dos freios), peões (pedestres), esbracejar (gesticular)
(12) empanado (em pane), amolgado (amassado)
(13) estar no sítio (estar no lugar)
(17) quebranto, quebrantamento (prostração)
(19) pensos (curativos)
(25) lotaria (!), cauteleiro (ambulante)
(27) aranhiços (caraminholas)
(29) casa de banho (banheiro)
(31) balda (mania)
(32) prelibar (antegozar)
(35) filado (preso), alvorotar (alvoroçar)
(36) corrido (vexado), trouxe-mouxe (desordenadamente), rédito (lucro)
(38) garrotado (estrangulado)
(39) irrefragável (incontestável)
(40) direção (endereço)
(42) morada (residência)
(45) malsonante (dissonante), progressão por quociente (progressão geométrica)
(48) camarata (dormitório)
(55) bacio (penico)
(56) retrete (latrina)
(57) ligadura (atadura)
(59) sentina (latrina)

(60) dezanove (!)
(61) dezasseis (!)

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Um mais um nem sempre é igual a dois.

Exemplos :

Dois monólogos não equivalem a um diálogo.

A solidão a dois pode ser muito, mas muito maior.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

O amor exige retribuição?


"Não se deve amar sem ser amado. É melhor morrer crucificado"

Uma atitude típica do gostar e da paixão é a exigência de retribuição ou reciprocidade : como é que você não gosta de mim se eu gosto de você? O tema do amor não-correspondido é o lamento mais freqüente entre os amantes, desde o tempo das cantigas medievais. É a queixa sobre o "amigo" (leia-se amante, em termos modernos) que traiu o amor que se lhe dedica, não necessariamente por uma infidelidade, mas por faltar em corresponder às expectativas que se tem dele
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Vi muita gente sofrer por amor não-correspondido, rejeitado, incompreendido, ou por assim dizer, aplicado à "pessoa errada" (aquela que não corresponde). E é neste tipo de condição que se afirma que a pessoa é "infeliz no amor" e é quando surgem os ciumes, as inseguranças pessoais, as frustrações e os conflitos.

E para complicar a situação, temos que lembrar que o amor é total, absoluta e irrevogavelmente ilógico. Da mais pura irracionalidade... Não precisa do tempo ... e certamente, não espera o menor pingo de incentivo para acontecer ... Quem é bêbado, olha na volta e vê todo mundo bêbado também. Quem está apaixonado é quem nem bêbado ... não consegue entender como o outro possa não estar apaixonado
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Podemos corresponder - podemos querer e nos levar a corresponder - ao carinho, ao respeito, ao entendimento em uma relação amorosa (adulta e consentida). Mas francamente, não consigo acreditar que uma nossa paixão por outra pessoa garanta (ou gere) uma paixão equivalente desta outra pessoa por nós. Não consigo me imaginar sentindo uma tal "obrigação", nem que ninguém possa vir a sentir.

Reconheço que o que vou afirmar é uma visão tipicamente masculina : tenho percebido muita mulher cobrando do homem a quem ama, este tipo de reciprocidade, mas tenho certeza que as mulheres são as primeiras a não se sentirem nem um pouco induzidas a retribuir uma paixão que lhe é dedicada – embora possam até se sentir lisonjeadas com o sentimento que provocam.

Ou por outra, podem até conservar em segredo, uma certa ressentimento contido (ou até manifesto) pela pessoa – por mais méritos pessoais que possa ter - que veio ou quer "usurpar" o lugar, a intensidade ou fervor, da sua verdadeira e original paixão em seu coração?

Alias, por falar em méritos pessoais, gostaria apenas de citar, de passagem, que não há nada, absolutamente nada que uma pessoa possa fazer para conseguir a paixão de outra pessoa, que não estivesse lá, em primeiro lugar! E quanto mais fizer por merecer (neste caso, pode até ser qualificado de "assédio"), o mais provável é que venha a ser desprezado e até hostilizado por tentar se apossar de um sentimento sobre o qual "não tem direito"!

O amor sempre é recebido de presente. Podemos conseguir a simpatia ou a gratidão de outra pessoa, o seu respeito, por nossas atitudes. Amor-paixão, nunca. Pois a paixão é algo muito primário, vem de nossas entranhas, tem enormemente a ver com o afloramento do nosso inconsciente, bem menos "controlável" que o amor fraternal ou familiar, a amizade, o amor devotado de um casamento estável, etc ..
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Inversamente, é só olhar a nossa volta e verificar quantas pessoas são amadas apesar de seu comportamento e de seu merecimento, filhos cruéis e bandidos que têm o amor de sua mãe, até o último alento; mulheres que continuam amando seu homem apesar dos maus tratos; ou homens que adoram sua mulher apesar de todas as traições que recebem, e outros tantos exemplos de menor dramaticidade.

Precisamos nos conscientizar da verdade que não existe lógica neste assunto de amor ou na sua falta : ou a gente ama alguém ou a gente não ama, pronto! É tão simples assim. Não encontrei ninguém que me explicasse como uma pessoa pode vir a amar alguém que não amava em primeiro lugar espontaneamente, nem como pode ser induzida a - ou treinada para - aprender a amar alguém específico.

Mas não nego que possa existir reciprocidade, e com relação a isto, existe uma boa e uma má notícia. A boa notícia é que o amor genuíno pleno é uma graça dada pelos deuses. A má notícia é que são eles que dão esta graça, não se sabe bem como decidem, mas parece mais uma destas coisas que a pessoa não pode fazer nada a respeito. No fim das contas, o amor correspondido é algo muito, muito raro ... como já disse, reservado para uns poucos eleitos .... tanto é que para estes poucos eleitos, os Romeus/Julietas ou Tristãos/Isoldas, é que se escreveram romances e poemas para serem inscritos nos anais da Humanidade.

Considero privilegiadas as pessoas que tenham tido a fortuna de uma verdadeira paixão em sua vida. Retribuída ou não. O resto, a grande, a enorme maioria, apenas se ajeita ou se acomoda com uma relação de conveniência, que, bem ou mal, freqüentemente se converte em uma relação de camaradagem, que espanta os infortúnios da solidão a que estamos todos sujeitos!

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Mas afinal, o que é esta tal de paixão? (3)

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Em terceiro lugar, vem o que se poderia denominar de querer bem. Ou seja querer o bem do outro, querer o bem para o outro. Ao inves de (apenas) exigir uma satisfação sexual ou passional do outro.

Querer bem é uma expressão muito feliz em português que não existe em outros idiomas. Ressalta a função volitiva, a disposição natural e espontanea de afeto, devoção e dedicação ao outro. Não é um sentimento que morre, é um sentimento que constroi.

Não se faz uma relação duradoura ou um casamento feliz e estável sem este querer bem. O casal não precisa se privar de sexo ou não sentir um pouquinho de ciume do outro, .... mas sem este querer bem, a relação não vai para frente.

Vão me dizer que este sentimento é muito parecido com a amizade, com o amor paterno ou materno, etc .. . E é mesmo, não resta dúvida. Mas tambem, hão de reconhecer que o querer bem entre um homem e uma mulher é algo muito particular, muito especial.

Vocês já devem ter visto algum casal de velhinhos, de mãos dadas, radiantes, felizes apenas por estarem juntos. Não é a memória de maravilhosos momentos íntimos, embora os possa ter havido. Mas é a marca da afeição, da ternura e da camaradagem. Eles conseguiram substituir a paixão pela amizade, por um companheirismo tão forte que o tempo juntos lhes transfigura as feições e os torna surpreendentemente parecidos. Assim quase como dois irmãos.

A paixão, sozinha, não pressupõe o querer bem. A paixão pressupõe o ciume, o mêdo de perder o que se considera como algo que lhe pertence, que é seu de direito, como uma propriedade ou coisa parecida. Mas a verdade é que ninguém pertence a ninguém!!

Mas afinal o que é esta tal de paixão? (2)

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Em segundo lugar, vem a paixão. Paixão é o campo do desejo de um pelo outro. É muito voraz, quanto mais tem, mais quer. Contrariamente à atração sexual, a paixão se nutre em si mesma.

Vejam bem, não que um casal apaixonado não façam sexo. Fazem, sim, por ser a natureza humana o que é. Com a proximidade física e emocional, o estímulo e a oportunidade crescem, é claro. Mas a paixão precede o sexo, de uma certa maneira. Vem antes ... o sexo segue como simples consequência. E pode ser muito bom, diga-se de passagem.

A paixão, contudo, ainda é muito egocêntrica. Quer tudo do outro, quer o outro inteiro. Para si. E quer cada vez mais. A paixão acaba quando o outro já não tem (ou não consegue) mais nada para dar! Suprema decepção!

A paixão é onde predomina o ciume, a possessividade. É algo natural a este tipo de sentimento.

E da paixão que tratam os romances quando falam de amor! Esta componente romântica é muito pronunciada. E extremamente valorizada nos filmes e novelas, e nas aspirações da juventude, em geral, mas sobretudo das mocinhas.

Ainda assim, paixão, sozinha, por mais intensa que seja, não é ainda amor. Pode eventualmente, evoluir para o amor, mas seus componentes egocêntricos, sozinhos, não permitem esta classificação.

Quem leu a Arte da Felicidade, do Dalai Lama, pode perceber como esta posição é claramente manifestada pelo autor, quando diz que "romance", (em inglês = sinônimo de "love affair") por mais gostoso que seja, não é amor.

Mas, afinal, o que será esta tal de paixão? (1)

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O que o dicionário nos ensina não nos leva a muito lugar. Mas sobressai que se trata de uma variedade de manifestações sentimentais ou emocionais, "levados a um alto grau de intensidade, sobrepondo-se à lucidez e à razão"


O que li de mais esclarecedor a respeito foi um livro de Rollo May (Love and Will) - Amor e Vontade. Analisa o amor, o Eros, entre o homem-mulher em três etapas.

Primeiro vem o atração sexual. Algo biológico e natural, um instinto que vem de mistura com algo vago definido como magnetismo pessoal. Um instinto fundamental à sobrevivência da espécie cuja satisfação se manifesta sob a forma de prazer. Como a maioria destes instintos de sovrevivência (como a fome, por exemplo), a componente prazer, está sempre presente. Talvez como um estímulo ao homem primitivo para se manter, ele e a espécie, vivos!

Para muitas pessoas, o amor não passa disto. O amor não é só isto. A atração sexual, como instinto, é algo que morre em sí mesmo, para usar uma expressão do Rollo May. Satisfeito o apetite, a pessoa não tem mais fome. Simples!! O amor baseado exclusivamente na atração sexual, tem uma tendência impressionante de não-durar. Exige variedade para manter o estímulo, que nenhum parceiro único consegue manter por muito tempo.

Apesar disto, o sexo tem uma função fundamental que é trazer o casal perto um do outro.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

De encontros e separações ....

Contrariamente às vidas paralelas que vivem lado a lado,
sem nunca se tocarem, num destino inumano e desalentador,
há vidas que receberam a graça do encontro.

Destino raro e breve, o do encontro.
Intenso, quente, vulcânico, arrebatador.
É de sua natureza, a empatia instantânea, mas também o embate.
Dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço.
Duas vontades não podem ocupar o mesmo destino.
As almas gêmeas - as que se conseguem se amalgamar -
acabam ficando cada uma com um destino truncado,
algo assim como meio destino
e nunca realizam sua sina.

Duas vidas depois de se encontrarem, se afastam
como as linhas secantes
porque tem rumo diferente
e a cada momento, se apartam cada vez mais.

É de seu destino a dor da separação.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Descobrindo o mundo ....


Mattéo aos 7 mêses

sábado, 15 de setembro de 2007

Os livros e eu (2)


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Esta foto é do meu pai. Não sei bem a data, certamente lá pelos idos de 1935, antes da guerra.
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Eu não tinha nascido ainda mas herdei a sua paixão pelos livros.

Meu pai era um homem inteligente, que passei a admirar muito sobretudo a partir de minha adolescência, especialmente pela clareza de suas idéias. E mais tarde, por ser capaz de reconhecer sua integridade moral, sua labuta pessoal.

A vida dele não foi um mar de rosas. Órfão cedo, se educou e auto-educou até chegar sem quase educação formal até ser juiz adjunto (no Egito, era possível substituir a escola pela prática). Mal casou, foi parar em 1940 em um campo de concentração no meio do deserto (ele era italiano, em um país sob protetorado britânico - com a ironia que meu pai era a pessoa mais anto-belicista que eu conhecí!). Embora fosse um campo dirigido por britânicos e que não tinha os horrores dos campos dos alemães, deixou marcas. Nasci quando ele estava lá.

Saindo de lá, a duras penas e com a crise de desemprego e os problemas de reintegração, acabou trabalhando em uma firma de algodão e depois de seguros onde acabou galgando a uma posição relativa. Então, veio Nasser e a expulsão do país em 1957. Viemos ao Brasil e aqui recomeçou tudo.

Venceu as dificuldades depois de vários empregos e quando estava se acertando como subgerente de contabilidade de uma multinacional, e comprou a casinha, aconteceu o derrame (1972). Perdeu a fala por vários anos e a memória dos tempos recentes (embora mesmo assim continuasse capaz de jogar um surpreendente xadrez!). Quando conseguiu vencer a doença, recuperar a fala e reaprender o português, o coração começou a apresentar falhas e acabou falecendo em 1981.

Não teve as coisas fáceis. Sempre cuidou dos filhos e da família em primeiro lugar. Só tinha olhos para a nossa mãe. Era mesmo do lar, não tinha muitos hobbies que eu me lembre, gostava de ler, isto sim. Era um exemplo marcante de auto-ditatismo. Tinha uma bagagem cultural impressionante, falava vários idiomas que ele aprendera todos sem curso formal. Era meio filósofo e gostava de frases de efeito. Não lembro dele se interessar por esporte ou ter muitos amigos. Não tinha muita habilidade física ou com as mãos, os consertos em casa, quem fazia era minha mãe.

Em suma, era um bom homem, que não era muito expansivo ou talvez não conseguisse manifestar seus sentimentos mas a gente pressentia que ele os tinha e uma atitude nobre, sempre, mesmo sem grandes lances.

Não sei se a gente pode chamar isto de humildade, mas era certamente um homem de grande valor, embora simples e com uma atitude sempre modesta.
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sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Os livros e eu (1)

Abrir livros e jornais para tomar conhecimento, me escreve um amigo

Não ... isto é um sacrilégio ... não se abre um livro para tomar conhecimento ... se abre um livro para desvendá-lo, sorver em si a sabedoria do autor, ler e reler e vivenciar o autor .... não "tomar conhecimento".

Quanto a jornais, do jeito que eles estão hoje (dando ao leitor o que ele quer ver e ouvir, dentro da filosofia da indústria assim dita "cultural"), o risco de tomar conhecimento das notícias de jornal, é de passar a não tomar notícia das coisas reais, das coisas que realmente valem a pena se inteirar! E que não estão nos jornais ...

Curtas vidas ...

Já estou me aproximando dos 68 anos. A morte tem estado mais perto, amigos e parentes tem morrido à minha volta, atores e personalidades que admirava.

Não, não tenho propriamente medo da morte. Ou seja não passo o tempo todo pensando nela, terrificado com a idéia. Quer dizer, não sei como será quando a enfrentarei ... mas não vivo ansioso e apavorado, me dói um pouco saber que talvez não terei feito o suficiente quando ela chegar ... mas aí, devo reconhecer que terá sido muito mais pela minha culpa, minha indolência e falta de zelo, do que por ela ter chegado muito depressa .... isto sim, as vezes me deixa um pouco deprimido.

Mas basta um pouco de sol .... e me reanimo instantaneamente com este nosso lindo planeta .... de montanhas e rios e mares maravilhosos; de flores e plantas de tamanha beleza que congelam nossos corações; de pássaros e peixes e leões e tantos outros bichos nossos irmãos, que com sua inocência e magnificência, enchem este nosso planeta de vida e fervor.

Até meus humanos semelhantes, tão selvagens, tão cheios de si, vaidosos, cruéis, cheios de ganâncias, conflitos e guerras, até eles, devem ser perdoados por conta das belezas que criaram em seus cânticos e suas canções, em seus livros, em suas artes, pequenas e grandes, em suas catedrais e seus templos, em suas casas e suas cidades, e pela infinidade de coisas, engenhosas - e às vezes até grandiosas - que conseguiram gerar, malgrado sua fragilidade e suas limitações.

E suas curtas vidas.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Matteo - 6 mêses



Neto de
peixinho
...
peixinho
é!!

Poemeto concreto

brincadeira "composta" voltando do banco a pé ...
dúvida
de vida
é
dívida
indevida

-

a vida é

dádiva

dividida

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Rio Una




Um riozinho manso, ao final da tarde, uns poucos metros atras de minha casa de praia.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Sensibilidade humana

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Existe um preconceito muito grande sobre o homem (macho da espécie) não ser capaz de sensibilidade. É verdade : em certas culturas, o homem é educado para não demonstrar - e até certo ponto, não ter de fato - sensibilidade. A nossa cultura, historicamente, não tem sido exceção, neste particular. Coisa do tipo "homem que é homem, não chora". Ou então, preciosidades do tipo : "Só os homossexuais tem sensibilidade"!

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Conversa mole! Um homem pode ser completamente e irrevogavelmente heterossexual e ainda assim, ter sensibilidade. Vamos pegar um exemplo como Carlos Drummond de Andrade, por exemplo, entre um milhão de outros. Ou o do Fernando Pessoa ou Vinicius de Morais. Também não precisa ser artista, poeta, escritor ou pintor ou alguma espécie de religioso ou filósofo. Basta ser um Ser Humano e se abrir para a Realidade que nos cerca.

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Por outro lado, nada impede que homossexuais possam ter sensibilidade mas garanto que não têm nenhuma exclusividade sobre isto. O que alguns homossexuais têm - alguns não todos - é uma gigantesca vaidade e uma espalhafatosa vulgaridade e promiscuidade, característica de um tipo de homossexuais que denigre socialmente o grupo. (Quer dizer, se alguém quer fazer valer sua preferencia sexual, pode fazê-lo mas não precisa se expor a um comportamento ridículo. Realmente, não condeno a homossexualidade, mas a verdade é que não a entendo como filosofia de vida, nem aceito a supervaloração que ela tem recebido nos últimos anos.)

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Como também não basta ser mulher para automaticamente ter sensibilidade, não é?

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Posso até concordar que podem existir algumas diferenças na espécie de sensibilidade masculina e feminina. Como regra geral, por exemplo, a mulher é mais emotiva, mais ligada as pessoas e seus sentimentos.

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Mas a sensibilidade é mais do que só isto, tem a ver com a imanência das coisas, com a Beleza, com a Justiça, com a Osmose Espiritual que nos permite entrar em contato com e sentir o Outro.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Coisas de vô coruja.




* Basta um sorriso e nosso coração aquece!!
Fotos de meu neto Matteo na França, hoje com 6 mesinhos.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Sobre atração ...

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Quando a gente conhece uma pessoa, é o aporte dos sentidos que funciona em primeiro lugar, o visual, o auditivo, até eventualmente o toque ... o resto vem mais tarde.

Ou seja, pondo em miúdos, a atração física é sempre o que vem em primeiro lugar. Não que seja o mais importante, vejam lá, mas é o que chega na frente. É algo bem primário, instintivo.

Como estamos a falar de uma condição homem-mulher, podemos chamar a atração, neste contexto, de atração "sexual". Nada a ver com atividades sexuais, apenas me refiro a atratividade natural entre os sexos.

Evidentemente, concordo plenamente que atração é algo muito relativo, varia muito de pessoa para pessoa. Mesmo nos homens. Contudo, existem instintos básicos que funcionam com muita força nesta área. Não se trata de beleza física cujos padrões tem mudado enormemente conforme a época, lugar ou classe social.

Trata-se de algo bastante mais primário e fundamental enraizado lá nos fundos de nossa estrutura arquetípica que trazemos dos primórdios da humanidade e que eram necessários para nossa sobrevivência.

O "ideal" da mulher para nossa antepassados era a boa parideira, a espécime que tinha uma estrutura física apropriada para gerar filhos fortes e saudáveis .... e que se caracterizavam por uma caixa pélvica de bom tamanho, manifestada por ancas grandes, e uma capacidade de amamentação adequada, caracterizada por seios profusos.

Até hoje, conservamos estes instintos. E estes indícios de boa parideira acabaram historicamente, se incorporando aos nossos padrões de beleza feminina e inevitavelmente, atraem os olhares masculinos. Homens mais elegantes, mais educados, civilizados enfim, podem não se virar á passagem de uma Jane Mainsfield ... mas vão notar, sim!! Não conseguem evitar, está no sangue!!!

Outra vez, não é uma questão de beleza física, mesmo porque o protótipo da boa parideira não é necessariamente um ideal sublime de beleza. Quando manifestado com acinte, pode até ser meio grotesco, quando não patentemente vulgar.

Mas que atrai os olhares dos homens, isto atrai. Mesmo porque o motor básico da atração no homem é a visão.

No fundo, as mulheres sabem disto. Tanto é verdade, que usam isto no modo como se vestem, em um decote discretamente revelador, uma saia no limite, um vestido que sugere as formas em vez de ensacá-las, etc. ... As mulheres podem dizer que não fazem intencionalmente, que seguem a moda, etc. .. mas quando uma mulher quer seduzir um homem, é assim que ela se veste.

Claro que não pode abusar do expediente sob pena de ser qualificada de profissional. {risos}

Dito isto, vou esclarecer algo que considero muito importante : não se procura ou começa um relacionamento baseado exclusivamente nesta atração primária.

O que vale para um relacionamento é inteligência, maturidade, experiência, cultura, compreensão, carinho, atenção, etc. Estas são as coisas fundamentais para um relacionamento humano digno e fecundo.
Mas estas coisas, convenhamos, são qualidades "invisíveis" nos primeiros contatos ou pelo menos, facilmente disfarçáveis. Somente são possíveis de descobrir após um certo convívio.

Mas para que haja um mínimo de convívio, é essencial que tenha havido de início uma mínimo de atração que leve as pessoas a se aproximarem.

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Existe indiscutivelmente um charme significativo na manifestação da inteligência feminina.

A inteligência feminina é diferente da inteligência masculina, ela é bem menos analítica mas ganha em abrangência. Alguém já viu algum homem ser capaz de fazer (ou pensar) duas coisas ao mesmo tempo? Mas a mulher consegue. Como faz isto, não faço a menor idéia, mas faz!!!

A mulher também utiliza em muito maior grau a intuição, para chegar no âmago e na verdade das coisas. Convenhamos que ela nem sempre é capaz, por raciocínio, explicar como chegou lá {risos} mas nem por isto, tem menos convicção ou honestidade em sua crença.

Esta forma de pensar pode ser comovente para alguns homens (entre os quais me incluo) e extremamente irritante para alguns outros, racionalistas empedernidos.

Outra faceta que cativa os homens é a capacidade da mulher de oferecer carinho e atenção. Talvez por ser mãe em primeiro lugar. Nenhum homem é capaz de competir com a mulher neste campo : o homem será sempre um pouco tosco ou ao contrário, tímido.

Se tem algo que consolida o relacionamento, são justamente estas qualidades. Não sei se podem, como tais, serem enquadradas como um elemento de "atração", mas certamente ajudam a manter a atração inicial, impedem que caia na rotina e até a enriquecem. Sem elas, o que se vê e é muito comum, o relacionamento se desgasta e acaba em desapontamento.

E finalmente, algo que fica evidente para mim, a medida que o tempo passa : as diferenças (secundárias) entre homem e mulher são as que menos importam ... são muito mais essenciais as características que eles (homens e mulheres) possuem em comum enquanto seres humanos!! Se são honestos, fieis, bons amigos, etc ... São estas qualidades que mantêm atraídos e amalgados dois seres

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Fé e Prosperidade

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Recebo um folheto.

Que termina citando um versículo de São Mateus : "Tudo o que pedirdes em oração, credes e o obtereis".

Versículo que se tornou a pedra basilar da Teologia da Prosperidade.

Não quero ofender a fé de ninguém mas depois de tantas traduções e várias versões e adaptações, (passou do aramaico para o grego, depois para o latim, deste para o inglês e finalmente, nesta versão em particular, para o português), tomar ao pé da letra um determinado versículo pode ser temerário.

O versículo promete "tudo o que pedirdes".

Tudo? Toda e qualquer coisa? Incondicionalmente? Bens materiais, riqueza, fama, poder, amores ...? A qualquer título, com ou sem merecimento e com qualquer finalidade?

Não é ingenuidade acreditar que nossa fé possa submeter a Divindade a se transformar em um instrumento a serviço de nossas cobiças pessoais e da satisfação de nossos desejos mundanos?

Sim, a Fé nos é necessária. Ela é fundamental para nosso soerguimento enquanto seres humanos e garante nossa elevação dentro do Universo que nos cerca. Ela nos é necessária para levar avante e com sucesso nossos projetos e nossas tarefas. Mas ela certamente não é um "cheque em branco", nem basta ter Fé para ter direito a dar ordens aos Céus.

O que a Fé faz, é nos abrir os caminhos da Prosperidade. A Prosperidade Espiritual, não a prosperidade material. A prosperidade material não abre os portões do Paraíso e certamente, quando chegarmos na frente de São Pedro, ele não nos perguntará pelo nosso saldo bancário!

E por mais que se insista, a prosperidade neste mundo não é sinal que somos os escolhidos e que estamos automaticamente salvos. Quando muito é uma provação para testar nossa capacidade de sobrepujar nossos instintos mais recônditos e nossas ambições terrenas.

Sim, a Oração nos traz tudo o que realmente precisamos. A VERDADEIRA ORAÇÃO. A que é feita com Fervor, Reverência e Compaixão. A que procura nos levar mais perto da Essência Divina, não aquela que se preocupa em pedir por benesses e favores egocêntricos.
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Inteligência e atração

Quanto mais mulher jura gostar de homem erudito,
mais ela procura um tipo burro e bonito
Rita Lee em "Fonte da Juventude"

Uma amiga minha, algum tempo atras, me afirmava que achava homens inteligentes atraentes. Custa-me acreditar : para mim, a Inteligência não pode ter qualidades erotizantes.
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Existe uma qualidade que eu poderia denominar de esperteza, uma forma de perspicácia mental, aguda, rápida e dirigida, que busca acima de tudo resultados pragmáticos e é encontrada tipicamente em vendedores, pessoas de sucesso financeiro ou prestigio, políticos, nouveaux riches, etc ... A esperteza - a inteligência dos resultados - pode ter ardorosos admiradores, sobretudo femininos ...
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Sem querer parecer exageradamente sexista, o que a maioria das mulheres procura em um Príncipe Encantado, é um homem rico e poderoso (por definição, senão não seria um príncipe, certo?). Por exemplo, um Príncipe Encantado não precisa ter uma extraordinária sensibilidade artística, mas recursos suficientes para comprar palácios cheios de obras de arte.
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As qualidades "masculinas" de ambição de riqueza e poder, estas são incontestavelmente qualidades erotizantes. Mas a Inteligência, enquanto qualidade básica de comunhão com o Universo, a Inteligência dos cientistas, filósofos, artistas, etc ... a que busca em profundidade e se liga aos mistérios da Natureza e do Espírito, esta Inteligência não pode ser algo "atraente".
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sexta-feira, 20 de julho de 2007

"Eu? medo?

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Tenho duas notícias uma má e uma boa.

A má notícia ... a maioria das pessoas que tem um mínimo de sensibilidade, que pensa, que tem emoções e ambições, necessariamente de alguma forma, sentirá alguma forma de medo ou medos.

A boa notícia é que, se você sentir medo, isto significa que v. é um ser humano.!! Normal, por sinal.

Os que dizem que não tem medo, estão ou mentindo ou se enganando ou escondendo seus medos de forma tão dramática que nada de bom pode resultar. Olha a sua volta e procure pessoas que se agitam, estão sempre superocupadas, fazendo um milhão de coisas e se engajando obsessivamente em atividades alienantes como jogar, beber, dançar a noite inteira, ouvir música ensurdecedora, tentar ganhar o máximo de dinheiro possível, etc {cada um inventa sua própria psicose, neste negócio!} ... Estão tentando ocultar seus medos e conflitos internos, fazem de tudo para que não aflorem à sua consciência.

Resultado : estresse, neurose, perda do sentido humano, perda do elo espiritual (ou consciência religiosa ou cósmica ou como se possa preferir chamar esta sindrome : muda o nome, não muda a coisa).

Fomos estruturados com uma série de dispositivos para conservar a vida. O instinto de comer, por exemplo, a nível individual. O instinto de reprodução a nível coletivo. Por sinal, reparemos que satisfazer estes instintos de preservação vêm sempre acompanhandos de prazer. Que talvez nos foi dado como estímulo para nos mantermos vivos!

Por outro lado, tudo que ameaça a nossa sobrevida, vai causar medo. É normal sentir medo da morte. Sentir-se envelhecer é reconhecer que nos aproximamos da morte. É normal sentir medo do envelhecimento. Saber-se doente é reconhecer que podemos reduzir nosso tempo de vida útil. É normal ter medo da doença. Somos seres gregários, inclusive para nossa propria sobrevida e segurança. Não conseguiríamos sobreviver sem pertencer à sociedade. É normal ter medo da solidão.

Então, o que fazer? É simples ... mas não necessariamente fácil.

Primeiro, é aceitar o medo, reconhecê-lo, analisá-lo, conversar com ele. Tento me explicar : o medo é a nível psicológico o equivalente da dor, ao nível físico. A dor é fundamental para a sobrevivência humana. A dor é um sistema de alarme, mostrando que existe um perigo para a segurança e sobrevivência pessoal. Uma febre, uma dor de estomago ou de cabeça, uma cólica, a sensação de queimado na pele ou de um dedo levando uma prensada, tudo isto existe para nos dizer que existe um perigo, que temos que fazer algo a respeito, nos evadir da condição ou procurar um remédio ou eliminar a causa. V. imagina o que aconteceria se você simplesmente não sentisse dor : se v. não tivesse alguem superprotegendo você, v. já estaria morto a esta altura. A dor é nosso anjo da guarda, 24hs por dia. Muito eficiente. Aparentemente incomodo, mas muito eficiente, sim.

Idem, idem com o medo.

O que fazer?

É pegar cada um dos nossos medos, e tentar saber realmente o que o causa. Avaliar o verdadeiro perigo. E tentar solucionar o problema {e estou me repetindo aqui}, nos evadir se for o caso, procurar um remédio ou eliminar a causa. Sob qualquer hipótese, é uma enorme oportunidade para progredirmos enquanto indivíduos.

Não é só trabalho cabeça, não!

Como dizem os napolitanos, estamos vivos quando conservamos os nossos três Cs. Cervello (cérebro), cuore (coração) e {perdão pela expressão chula} coglione (colhão). Esta última função é fundamental, ela representa mais do que apenas nossas urgências sexuais, ela as engloba mas na realidade, é muito mais, é a expressão da nossa necessidade de agir, de viver de fato e de se afirmar no mundo externo/físico, ela é expressão do que queremos para nossa vida, com o mais profundo de nossas entranhas.

Quando o zé povinho diz que fulano tem colhão, isto não quer dizer que fulano é um galinha que corre atras de tudo quanto é saia, mas sim que fulano tem coragem de enfrentar as coisas com determinação, com fé naquilo que acredita e que busca. E esta característica não é exclusiva dos homens, mas de todos os seres humanos, homens ou mulheres de forma igual.

Assim, não basta pegar nossos medos apenas com cérebro. É preciso sentir nosso medo com o coração. Tentar se identificar com ele e decifrá-lo. E tambem obviamente, é fundamental enfrentar o nosso medo com co...ragem! {quase peguei vocês, rs!}

Lógico, se os medos são muitos ou se permitimos que tenham ficado muito grandes ou muito tolos, então não é vergonha nenhuma buscar ajuda e procurar psicoterapia. Mas o que um psicoterauta vai fazer (as mulheres são melhores psicoterapeutas do que os homens), é apenas ajudar o paciente a enfrentar seus problemas e seus medos com os três Cs.
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Transitoriedade

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"... estamos de passagem em um mundo transitório. Por que ter tanta preocupação com algo que não durará?" (Jean Yves Leloup - em A Montanha no Oceano - pg. 74).

Dinheiro, posição social, poder e fama nos ajudam a viver em sociedade
e por isto, temos que cuidar destas coisas sensatamente ... mas não devemos levá-las a sério demais, elas não são o fundamento da Vida!
De uma certa maneira, estas coisas, que os condicionamentos sociais a que fomos sujeitos pela família, pela educação, pela sociedade, pela igreja, pelos amigos
(e hoje, sim, pela televisão) nos induziram a vê-las como coisas fundamentais;
mas, em verdade, elas são a real fantasia que não resistirá a nossa morte.

São Pedro, quando chegar a nossa hora e nos apresentarmos,
certamente não nos perguntará nosso saldo bancário.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Os metecos ...


Então, pelo sobrenome, pela origem, pela cor, pelo tipo físico ou jeito de ser, qualquer um acaba vivendo algum exílio injusto e particular. (Lya Luft)

A primeira vez que me defrontei com a palavra foi em uma música de Georges Moustaki, cantor que fez algum sucesso na França nos anos 60-70. Ele é pouco conhecido por aqui, embora esteve algumas vezes no Brasil e é um apaixonado pela música brasileira, da qual incluiu várias em seu repertório. Para mim, ele é alguém especial por ter nascido em Alexandria, no Egito, cidade onde vivi minha juventude. Ele frequentou inclusive a mesma escola.

Mas o que é um meteco? Diz o dicionário : um estrangeiro domiciliado em um pais.

Entendo a sua música e sua tristeza. Nascemos em um pais, o Egito, que não era o nosso. Éramos cristãos em uma terra de muçulmanos. Éramos europeus cosmopolitas, falando várias linguas europeias, em um pais de fala árabe, um povo pobre, com uma herança maravilhosa mas que havia sido completamente dilapidada e destruída, só restando miséria e descultura.

Tínhamos nossos bairros, nossas escolas, nossas igrejas e até nossas praias. E o povo local tinha costumes que considerávamos muito primários e uma cultura bastante atrasada. E uma falta de higiene bastante característica que funcionava como uma enorme e intransponível barreira, bem acima de quaisquer outras divergências de cunho religioso ou social.
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E é lógico, havia muita segregação. Diria que tácitamente aceita e de parte a parte : tanto é que nunca prevaleceu a jus soli e era totalmente normal que, mesmo após um número grande de gerações, filho de estrangeiro, continuasse estrangeiro.

Creio que sinceramente desejávamos continuar assim, mas permanece o fato que, assim mesmo, nós éramos metecos e de certa forma, isolados.
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Com as reviravoltas da política local, ao final dos anos 50, os metecos saíram do Egito : havia italianos, franceses, gregos, malteses, uma variedade de raças e de religiões : todos invariavelmente nascidos lá, e radicados lá, há várias gerações, diga-se de passagem!. Se espalharam pelo mundo. Alguns foram para os paises do futuro e da esperança : Australia, Canadá, Brasil, Estados Unidos. Outros para os países de origem de seus antepassados ou de sua predilação que os quizessem receber.

Continuaram metecos. Falavam vários idiomas e não foi difícil aprender mais um novo. Estavam habituados à diversidade de costumes, também não foi difícil se adaptarem, como soi a um bom e sólido meteco.

E metecos permaceram, gente longe de suas raízes, de seus amigos de infância, dos costumes de um ambiente cultural único, restrito e irremediavelmente extinto.

Passaram-se os anos, casaram, tiveram filhos e netos.

E hoje, ainda, na realidade, continuam metecos, uma espécie de nomades, diluídos e invisíveis na paisagem urbana, sim; ... mas uns personagens, no fundo, um tanto estranhos. Presentes mas não totalmente pertinentes, com uma série de idiossincrasias na forma de pensar, uns gostos um tanto peculiares e uma saudade de uma filosofia de vida que eles trazem de um mundo só seu, que não existe mais, vivendo, como bem diz Lya Luft, seu exílio particular.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Compaixão



Fazer a caridade porque é o certo ou porque afirmam que isto dá uma satisfação pessoal muito grande .... está errado! Não é caridade, é técnica do "american way of life" .... engana o ego e a persona .... mas é só! Uma grande hipocrisia. Que não somente não rende nada para o Ser, mas provavelmente o avilta.

A caridade, a compaixão só pode ser espontanea. Tem que vir direto do coração. Não sei se espontaneidade pode ser ensinada ou aprendida. Com sofrimento, talvez? Mas não creio que a auto-flagelação ajude em grande coisa : não é este tipo de sofrimento.

Então, como gerar esta compaixão? de forma legítima, digo! Ler não adianta muito, já li demais e sei que, para mim, não é isto que resolve. Ao contrário, fica-se cada vez mais cabeça!!! Não creio que palestras, seminários ou semana nas montanhas tampouco resolvem o caso. Pode ser uma deficiencia estrutural de base! E então, talvez só nos reste rezar para obter a Graça, se a gente lembrar como é rezar. Se não nesta existência, pelo menos nas próximas.


"Quero resolver todas as minhas pendências e quando retornar, que seja para um planeta sem tanta expiação.... ". Parece Jean Yves Leloup quando diz : " o caminho da transformação .... não somente para si mesmo, mas para o bem estar de todos ... e (o boddhisattva) não está despertado enquanto todos os seres não o estiverem... ele renuncia a entrar na plenitude deste despertar, enquanto um só ser estiver sofrendo".


É muito grande para a maioria das pessoas. Que têm dificuldades até com as pessoas que lhes estão mais próximas. Que dirá de um pastor nos Himalaias, um índio no Amazonas ou um índigena da Australia? Que dirá de um morador de rua ou um fugitivo das secas. Ou da criança sem rosto que sobrevive na favela na frente da qual a gente passa todo dia.

Quem somos nós, quem sou eu, para o ideal do Leloup?
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As luzes não se acendem para todos



Os italianos têem uma expressão, um tanto depreciativa que é "rimbambinito" = que voltou a ser criança. O que é uma pena, pois voltar a ser criança e se maravilhar com as coisas simples da vida é uma bênção, não uma doença senil.

Tão ruim quanto não nos conscientizarmos que "as luzes não se acendem para todos", é não conseguir enxergar as luzes que se acenderam e ainda se acendem para nós. E agradecer por elas.
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domingo, 8 de julho de 2007

Crer ou não crer ...

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Aquele que não crê em nada, no fundo, é tão crédulo quanto aquele que crê em tudo
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quarta-feira, 4 de julho de 2007

Dúvidas ...

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Lembro-me de uma frase que registrei em um filme, creio ter sido em Madre Maria Joana dos Anjos (filme polonês, já com uns 30 ou mais anos). Um convento de freiras, em uma aldeia polonesa, na idade média, possuídas ou perseguidas pelo demônio, um padre simplório que não consegue resolver o problema nem com as suas preces nem com as suas flagelações .... uma noite em desespero de causa, procura sorrateiramente o rabino da aldeia, única outra pessoa no local com um mínimo de luzes. Conta-lhe o seu problema e suas dúvidas, ao que o rabino fica muito bravo e lhe diz : "Homem de Deus, com que direito v. vem perturbar meu sono com suas dúvidas? Você por acaso não sabe que tenho as minhas?"

Sim , todos temos as nossas dúvidas. As pessoas mais inteligentes sabem que as tem. E as pessoas mais sábias, as que se aplicaram à tarefa sabem até dizer quais são. Ninguem de certa inteligência acredita que tem as respostas ou soluções.

Apenas os néscios que não se dão conta de suas dúvidas, acham com certeza que tem as respostas.

Sim, como como o rabino, tenho as minhas dúvidas. Diferente do rabino, não vou ficar bravo se algum amigo um dia resolver me contar as suas mazelas. Não posso garantir respostas, apenas um ouvido complacente : o fato de alguem nos ouvir e compartilhar, ajuda - e em muito - tirar das nossas dúvidas o fator de tensão emocional (ou, as vezes, de quase desespero), especialmente se conseguimos descobrir que outro tambem tem dúvidas da mesma natureza!

terça-feira, 3 de julho de 2007

Discutir a relação

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Hoje os moços vivem discutindo a relação ... está certo, nossa geração e especialmente a anterior não discutiam nada ... apenas conviviam com os problemas ... os homens porque era feio se incomodar com umas coisicas a toa ... as mulheres porque deviam obediência e submissão e esta era a sina das mulheres .... Realmente, teriam ganho se negociassem de vez em quando alguns arranjos no convívio!

Mas não é preciso exagerar tanto ... tem alguns moços que fazem o objetivo máximo da relação, discuti-la ... Espera aí ... a relação deve ser vivida, curtida, sofrida ... faz parte da vida humana cometer enganos ... passar o tempo todo discutindo a relação tira a espontaneidade e a graça da coisa, resseca o relacionamento e deixa o tempo escapar sem fazer o mais importante, que é usá-lo para viver e se amar naturalmente!

E se o casal brigar de vez em quando, não sei se é tão grave assim : os pequenos problemas acabam se resolvendo de por si, sendo esquecidos ao longo do caminho, e os grandes problemas, os verdadeiros problemas, estes acabam explodindo em uma crise - bem à italiana - numa briga que ou resolve os problemas ou dissolve a relação porque esta não aguentou os problemas - e não teria aguentado de qualquer modo.

Agora, transformar todos os problemas em uma discussão permanente da relação é dar-lhes uma exagerada importância e transformar a relação em algo amargo onde só se discute culpas e recriminações ... não é de estranhar que discutir tanto a relação não consegue manter estes casais juntos!!

A análise não substitui a vida

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Existências

Moro no 15o. andar, em cima de um espigão. É um lugar bastante alto e aberto - e com uma vista muito bonita, por sinal.

A vista da cidade à noite me é muito comum. Como a maioria dos homens da minha idade, acordo 2 ou 3 vezes à noite ... o que é muito incomodo (preferia dormir minhas 6/7 horas direto.)

Mas é muito interessante a reflexão e a consciência que causa a vista de uma cidade à noite, sem barulhos, sem carros : a vida está lá, ela está lá fora, forte e palpitante e quase dá para "ouvir", apesar do silêncio.

Interessante este fenomêno da permanência que levamos a vida inteira e não apreendemos por completo : as coisas existem mesmo que não as vemos.

Os anjos e os deuses existem mesmo que não os percebamos.
Deus existe mesmo que não consigamos sequer conceituá-lo.
A humanidade existe, esta enorme multitude de seres em tantos lugares pequenos ou grandes, distantes ou próximos. Cada qual com suas dores e suas alegrias, sua grandiosidade e suas mesquinharias.

Todos lá fora, à nossa volta.

Apesar de nossa inconsciência, de nossa alienação ou de nossa indifere
nça.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Vitrais e almocelas ...


Gosto de vitrais. E da luz que filtra atraves deles. E reconheço o sublime envolvimento emotivo-religioso que causa ... (alias, quem não conhece os vitrais de Marc Chagall para igrejas cristãs? ele que era judeu, diga-se de passagem!!! .... maravilhosos). Dá vontade de falar com Deus.

Mas falar com Deus, qualquer um de nós pode falar em qualquer lugar. Nos primórdios da civilização, os homens acreditavam que Deus morava no Céu ou nos megalitos ou mais tarde, nos santuários. Até hoje, tem muita gente que crê firmemente que Deus reside nas igrejas e nos templos. Como se meia dúzia de tijolos pudessem aprisionar a Divindade.

Mas Deus está em todo lugar, até dentro do recesso de nosso ser, andando na rua. Ele pode ser encontrado à beira do mar ou de um lago ou de um rio ou em cima de uma montanha. Ou no bosque de um parque. Ou no silêncio de seu lar.

Ou quando se faz algo com muito amor como arte ou cozinhar. Até sexo, dizem os orientais que praticam a Tantra Yoga.

Nas casas de antanho, havia um oratório ou um ícone de um santo de devoção. As pessoas de persignavam ou pelo menos, faziam um imperceptível aceno de reconhecimento como quem dissesse : "eu sei que Tu estás conosco"

Toda casa de muçulmano tem a almocela, o tapete de oração. Acho admirável. Assim como acho admirável que nas casas dos extremo-orientais, há um lugar reservado para meditação, até com pequeno altar.

Faz falta a presença do Sagrado em nossa vidas.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

J´ai plus de souvenirs ...

Beaudelaire é que dizia :"J´ai plus de souvenirs que si j´avais mil ans."!

Em toda honestidade, sinto um pouco de inveja das pessoas que têm uma facilidade de rememorar tantas coisas de seu passado, e são capazes de tirar de seu baú de lembranças, detalhes que me deixam atônito. Eu, as vezes, sinto como se tenha tido uma vida quase vazia. As memórias, elas não me voltam ... é como se minha vida fosse feita muito mais de esquecimentos do que de recordações!

Sim, sim, é claro, eu sei as datas e os grandes fatos de minha vida. Mas me faltam as imagens e os sentimentos atrelados a estes fatos. Tenho fotos, sim, mas é quase como assistir a um filme, sobrando aquela sensação de "exterior" por assim dizer, não algo que brota de meu íntimo.

Me incomoda um pouco, para dizer a verdade, mas não demais. Amo a vida ... e se minha vida não tem uma grande soma de passado, que fazer? Continuar feliz sem passado. Não é mesmo?

Tenho impressões difusas, mas nem por isto, menos vivazes. Por exemplo, tinha um amor todo especial pelo meu Colégio, no Egito (Collège Saint Marc). E dele, guardo a lembrança do grande respeito que eu tinha por um professor, Frère Lucien, do qual não consigo reviver nenhum traço, mas do qual recordo ser homem inteligente, íntegro e exigente que nos ensinou uma filosofia de vida impecável que me marcou até hoje e que, em tudo, nos estimulava a nos realizarmos enquanto seres humanos.

Tentei começar a escrever minha autobiografia (como um exercício psicológico) .... apenas para descobrir que era impossível alinhavar as minhas memórias. Neste sentido, eu sei pouca coisa a meu próprio respeito. Podem ser os primórdios do Alzheimer {risos!}, mas lembro de tão poucas coisas específicas a respeito de minha vida.

Da minha infância no Egito. Tem alguns registros escolares, algumas fotos, os relatos da minha mãe (hoje falecida). Mas isto não vale, isto não é memória original própria. Sobram realmente pouquíssimas imagens, algumas sem muito importância, alguns trechos de paredes de uma casa, uma praia, um pesadelo de doença infantil, a vista da janela de uma sala de aula que dava para o mar, a lembrança de alguns amigos mas hoje sem rosto e até sem nome, coisas assim.

Viagens fiz, de que não lembro nada e olhando a foto, só posso ficar perplexo de eu estar posando na frente de um monumento ou coisa assim.

Sim, lembro de coisas, como carros, de algumas viagens, de alguns poucos episódios, de alguns amigos específicos .... mas muito, muito mesmo, simplesmente desapareceu ... é como se nunca tivesse acontecido. Mas certas coisas, banais mas poderosas, voltam .... como por exemplo, o cheirinho gostoso da madeira entalhando no pirogravo.

Hoje, a rigor, minha biografia, consistiria das coisas que penso ou sinto, muito mais do que os eventos que aconteceram comigo. Não que considero minha vida extremamente banal, tenho afortunadamente uma boa vida, mas minha vida "interna" parece tomar uma grande precedência sobre o dia-a-dia, as viagens, as festas, os eventos ...

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Projeto de vida ...


Sempre vale a pena fazer a seguinte contabilidade.

Estou hoje com 66 anos. Posso fazer uma estimativa de minha sobrevida, por exemplo, em um número razoável 80 anos. Não posso garantir, é claro. Mas não é improvável, não tenho nenhuma doença degenerativa, vivo bem, faço exercícios, tem histórico positivo na família, etc ... Mais ou menos uns 15 anos.

Posso não fazer tudo que um moço faz .... mas dá para fazer um bocado de coisas. Vamos verificar?

Se eu tiver um projeto qualquer, posso pensar assim : vou dedicar algumas horas, todo dia útil, durante umas 48 semanas por ano (descontando viagens, "férias", etc ...). Digamos 3 horas por dia. São 15 horas por semana, 720 por ano.... .Mais de 10.800 horas em quinze anos. É horas pacas, para usar uma expressão popular bem enfática! Dá para fazer um monte de coisas, aprender um instrumento, escrever vários livros, estudar um ou vários idiomas, pintar um acervo inteiro de obras, etc .... Mesmo que sejam 2 horas por dia, estamos ainda falando de 7.200 horas.

A única coisa que não podemos fazer é se entregar ao ócio e à preguiça. Ou exclusivamente a atividades de matar o tempo (ver televisão, jogar baralho, fazer palavras cruzadas, etc ...). Alias, sobre isto lí uma frase interessante do Machado de Assis : "Matamos o tempo .... e o tempo nos enterra." .


Está certo, mesmo que não matemos o tempo, o tempo nos enterrará do mesmo jeito {risos} .... mas pelo menos, teremos tido uma vida frutífera.

O oasis no horizonte

Quando se é jovem, a vida se nos apresenta como um vasto e infinito horizonte, não se enxerga nem se imagina o fim. Já quando velho, apercebe-se que o passado transcorreu assustadoramente - e as vezes, estupidamente - depressa. Eu achava que os velhos mentiam quando sorriam...

Bom, os velhos podem sorrir porque são forçados a admitir que o fim vem : afinal, vêem, a cada dia com maior frequencia, amigos, parentes, artistas famosos, etc ... morrendo. Mas daí dizer que perderam a ilusão - ou melhor o sonho - que a sua própria vida não tem um infinito horizonte ... isto, é outra história.

Perder este sonho pode ser perigoso, pode tirar a vontade e a alegria de viver, degenerar numa perniciosa depressão e transformar o final de nossa vida em uma melancolica sala-de-espera. E pior, pode levar a desistir de seus objetivos sob a alegação de que já tem mais tempo para realizá-los.

A miragem de um oásis já ajudou muito viajante no deserto a continuar andando ... e se salvar no processo!

terça-feira, 12 de junho de 2007

Complemento a "Pedi a Deus"

É muito conhecido o lindo poema anonimo "Pedi a Deus"

Pedi forças e vigor e Deus me mandou dificuldades para me fazer forte
Pedi sabedoria e Deus me mandou problemas para resolver
Pedi prosperidade e Deus me deu energia e cérebro para trabalhar
Pedi coragem e Deus me mandou situações perigosas para superar
Pedi amor e Deus me mandou pessoas com problemas para eu ajudar
Pedi favores e Deus me mandouoportunidades
Não recebi nada do que queria
Recebi tudo o que precisava
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E eu gostaria de acrescentar ....

Pedi Paz e Deus me mandou guerras
para que eu pudesse aprender a superar a dor e o sofrimento
e vencer a violência que reside em mim,
nas regiões mais sombrias do meu Ego.

sábado, 9 de junho de 2007

Dos homens e dos animais ....

Assistia na TV a um programa denominado Wild Word - traduzido incorretamente como Mundo Selvagem (quando deveria ser Mundo Natural)

Fiquei matutando porque chamamos os animais de selvagens.

Nós os caçamos em safari e os matamos em arenas para nosso entretenimento; nós os enjaulamos em zoológicos e em nossas casas; nós os empalhamos para nossa decoração; nós os criamos para o abate, para usar seu couro ou seus chifres; nós os dissecamos e os sacrificamos em nossos laboratórios ou os enviamos ao espaço para morrer; e temos, ao longo dos séculos, conseguido extinguir, sem qualquer constrangimento, espécies e raças inteiras.

E são eles, os animais, que são selvagens?

terça-feira, 5 de junho de 2007

As muitas variações e manifestações de violência

Vendetta, assaltos à mão armada, crime organizado, racismo, perseguições étnicas, genocídios, repressão policial, inquisição, guerras políticas ou religiosas, guerras santas, música heavy metal, sado-masoquismo, caça, safari, torturas policiais e políticas, sacrifícios religiosos, suicídios coletivos, terrorismo, turbas de futebol, violência doméstica, rapto, estupro, etc. ...

Sem nenhuma ordem ou classe, há de todos os tipos e todos os graus ....

Se alguém lembrar de mais algumas, eu acrescento ...

Notícia de primeira página

Um diário importante, há uns 3 ou 4 anos, publicou uma notícia de primeira página ...

Bem no meio de notícias importantes, dos infortúnios financeiros e econômicos, das incertezas da política, os grandes desastres mundiais, da taxa do dólar, dos resultados do futebol (nossa religião nacional ...) e da previsão do tempo, bem no meio de tudo isto, uma notícia de igual ou maior importância, só pode ser se é de primeira página, não é?

País já tem lutas de boxe infantil

Não, não, eu li certo, é isto mesmo ...

Bom, de início, aquela revolta ... com tanta coisa que podemos dar aos nossos filhos, uma boa cultura, um preparo esmerado, uma consciência de civilidade e espírito comunitário, etc...

Ah! Mas devo estar errado! Esta é uma notícia alvissareira! Finalmente, alguém de bom senso vai ensinar aos nossos filhos como surrar eficientemente seus irmãos, como saber levar e dar porrada, mesmo que deteriore seus cérebros e crie calos em suas almas, que lhes tire toda a sensibilidade sobre as coisas da arte e da beleza ...

Sabe, estaremos lhes ensinando com eficiência os caminhos da violência e da brutalidade e pelo menos, poderemos ter a certeza que saberão se defender de um assalto na esquina ... ou quem sabe, conduzir um com bastante eficácia!

Justiça social ...

Um menino nasce em uma favela, pai desconhecido, mãe solteira, que trabalha como servente, e não tem nem condição nem tempo de cuidar; como ela, ele nunca viu escola, nem comida direito .... vive nos becos no meio de água imunda, insetos, doenças, drogas, violência, sexo primário, etc .. Cresce para ser bandido e acaba morrendo jovem, de doença ou de bala.

Responde para mim : ele teve chance? Você e eu tivemos chance. Mas, insisto, o que ele teve? Porque foi condenado de antemão? Porque ele e não eu? Eu faria "melhor" no lugar dele?

Em compensação, nasce outro em berço esplendido, cercado de todos os cuidados, a melhor educação, o máximo de amor, etc ... Não que alguns destes não virem bandidos, mas cercados de bons advogados e bons médicos, vão viver uma vida longa e próspera.

Nascem alguns gênios extraordinários na física ou na arte, e outros absolutamente mentecaptos, incapazes do menor raciocínio! O que uns e outros fizeram para merecer (nascer do jeito que nasceram)??
Não, não faz muito sentido!


Não nos é dado entender Deus, nem os seus desígnios. {Teríamos que ser Deus para podermos entender .... e é claro, nós não somos Deus! Embora alguns presidentes acreditam que são! {risos}}

Também a Justiça é um conceito humano, embora escassa. Não podemos assegurar que a Divindade tenha características humanas e que, seja o que for "Justiça" ao nível Divino, tenha qualquer semelhança com o que nós chamamos de Justiça.

Dia do Meio Ambiente


Preâmbulo :
Tenho casa no litoral e tem matos à volta, a praia, o rio, etc ... mas não me sinto envolvido com a "natureza" : observo, olho, gosto da beleza natural da paisagem, os morros, o mar, meu senso estético funciona, não resta dúvida.

Até tenho bebedouros no jardim e fico admirado com os pássaros, inclusive um casal de pássaros vermelhos, mas vermelhos mesmo, brilhosos, lindos (me disseram que se chamam de tiês). Sua companhia me ajuda a pintar e esculpir.

Mas não consigo me "conectar" com a natureza. Sou filho de asfalto. Não gosto de caminhos de terra, de lama, menos ainda. Andar no mato me mete um pouco de medo de dia, de noite nem pensar!! Não caço, não pesco. Não planto nem colho.

Sou filho da Metrópole. Gosto de conforto, ar condicionado, carpete. Minha aventura é um livro ... ou um filme. Meu exercício é tênis ou tai-chi-chuan. Sim, ando na praia, também como exercício .... mas para me locomover, posso lhe assegurar que prefiro de longe um carro a andar a pé!

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Não entendo os pesadelos que os ecologistas sofrem com certas coisas. A qualidade do ar está piorando? Deve estar .... mas quer saber, acho que o ser humano que vive na metrópole, já se ajustou.

Se a ecologia é a ciência das relações dos seres vivos com seu ambiente, acho um erro crasso focar a ecologia humana apenas ou principalmente sobre a degradação do seu ambiente físico.

A ecologia "humana" deveria tentar sanar problemas dos meios social e cultural, que são o ambiente primordial do ser humano e cujos desacertos lhe fazem muito mais mal que os problemas do ar. Por exemplo, a crescente criminalidade, a exacerbada banalidade que grassa em nossos meios de comunicação, a pobreza crônica, o trânsito, a corrupção contínua e a irresponsabilidade na administração da coisa pública, a proliferação de igrejas que visam lucro, etc ...

Porque este é verdadeiramente o "ambiente" em que o homem vive, na metrópole .... e está bem mais deteriorado do que o ambiente físico, com o qual o homem, hoje, tem muito pouco contato.

Alias, imagino que se se resolvessem alguns problemas de educação, inclusive criar uma consciência social sobre o lucro irresponsável (que gera a ganância da exploração dos recursos naturais), imagino que a maioria dos problemas do ambiente físico já estariam resolvidos!!!

segunda-feira, 4 de junho de 2007

As religiôes e a violência

As artes marciais orientais, o Bushido e as artes do samurai, foram sempre tidas como um baluarte para o desenvolvimento espiritual de seus seguidores ... mas são artes da guerra, não devemos esquecer, artes da força e da violência, artes de matar e sim, dizem, de defesa ... mas, vejam bem, contra as ameaças de outros nos matarem!

Mas o Oriente é longiqüo e é fácil jogar a culpa para longe ... mas a verdade é que o ideal do guerreiro não está tão longe de nós. Nós o tivemos nos cruzados, nos templários, nos cavaleiros de Malta e toda a civilização ocidental gira em torno do ideal de um herói que é basicamente um personagem bélico, que vence os inimigos da pátria.

As religiões ocidentais, definitivamente, não se isentaram do processo e o caso de Joana d´Arc é um caso muito sintomático de uma santificação de uma pessoa que se dedicou à guerra! (em prol de um rei de qualidade pessoal, ética e ambições muito discutíveis, diga-se de passagem!). O ideal medieval do cavalheiro era a de um guerreiro e a busca do Santo Graal, vai de mistura íntima, com as guerras incessantes em que os Cavaleiros da Tavola Redonda (e os Cruzados, Templários, etc. ...) se envolviam.

Da mesma forma que é fácil criticar o Bushido, é fácil criticar a Jihad mas não podemos deixar de reconhecer o enfoque que nós, cristãos ocidentais, damos às nossas guerras : são todas guerras santas, mormente dentro do estilo característico dos WASPs tão cheios de seu "righteousness" e da certeza de excelência de seus sistemas político e religioso. A história das grandes nações modernas é lamentavelmente uma sucessão de guerras, geralmente em terras alheias, muitas delas de motivação obscura, mal esclarecida, o que leva intuitivamente a crer em motivações escusas de predominância política ou econômica, acima de qualquer consideração ideológica.

Alias, tão grande é o envolvimento destas grandes nações com a guerra, que vários escritores de cunho esotérico não hesitaram em aventar a hipótese de uma grande conspiração oculta com seres de outros mundos, (ou de outras esferas, se quiserem) para subjugar os grandes governos desta nossa terra, em particular os Estados Unidos.

Na minha visão, grande parte desta inclinação para a violência nos vem justamente dos condicionamentos recebidos de nossa educação, da nossa doutrinação sócio-política e até de nossa religião.

Em que pese que não sou a favor de erotismo gratuito na TV, não deixa de ser sintomático que se critique veementemente umas vedetes que tentam se promover à custa de sua nudez ou de seus remelexos pornográficos, e se deixa passar umas cenas deprimentes de homens se socando à vontade, de formal brutal e primitiva, tentando vencer um ao outro, à base de porrada, pontapé e qualquer forma disponível de infligir dor ... e, por cúmulo de ridículo, ainda nos damos ao luxo de chamar isto de esporte!

Origens da violência no ser humano

E donde vem este gosto, este desejo do público pela violência?

Uma condição que não podemos negligenciar é que a agressividade é uma necessidade no mundo "animal" para sobrevivência, é a lei da selva, a lei do mais "forte" que herdamos dos caçadores do Paleolítico.

Mas mais do que o pacto místico caçador-caça, nos humanos, é uma característica inerente da sua natureza vegetativa, (geralmente denominada de natureza animal) que contem fortes instintos de sobrevivência.

Precisamos da agressividade? Não resta dúvida. Sem ela, não haveria o que em inglês se chama de "assertiveness" (auto-afirmação), nem ambição ou inconformismo. Embora freqüentemente estas facetas sejam considerados como "defeitos", é preciso reconhecer que sem uma dose certa de agressividade, não há desejo de mudar ou de progredir.

Em que momento a agressividade se transforma em violência? É quando o outro se nega a nos dar o que queremos! Aí, é que surge a tentação de usar a força, a coação, a coerção, a chantagem .... pois violência não é só o uso da força física mas também o poder político ou o domínio psicológico da ameaça e do medo.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Filmes na TV


Fico me perguntando se é possível assistir um filme recente na TV que não seja violento, de uma forma ou outra. Quando não é filme, é luta de boxe, desenho infantil (se v. duvidar da violência subjacente, assista alguns .... e não só os japoneses!). Noticiário então!!!

E tudo, se resolve com a "força dos punhos" .... bem ao estilo americano, onde os personagens são reduzidos a meros robotóides movidos por uma moral duvidosa, quando não francamente ambígua, onde o mais forte é o melhor e sempre tem razão, a base de socos ou revolver ou "phaser".

Os "bons" são os que vencem no fim, os "bons" são os que sabem lutar melhor, os "bons" são os que matam eficientemente, etc ... E os americanos usam realmente esta filosofia em sua "política" internacional. Ou o outro se submete espontaneamente (leia-se : cedendo às ameaças) ou será submetido pela força das armas.

O drama individual é mera fachada, nestes filmes. É uma estratégia para vender uma filosofia aos cidadãos, oferecendo lhes esperanças de liberdade, dignidade, segurança, etc .... E tem funcionado.

Na origem , eram os filmes de farwest com seus inimigos característicos, bandidos ou índios. O gênero foi institucionalizado com os filmes, de conteúdo "patriótico" durante as numerosas guerras em que os americanos se engajaram, e que eram financiados pelo governo, mesma na época da guerra fria..


Hoje, criaram um público, um gosto popular pelo gênero que dá lucro, um sistema auto-subvencionado, comumente sobre os inimigos de ocasião (terroristas, crime organizado, etc ...). ou com inimigos difusos ou fantasiosos as vezes, como os ETs

Porque temos tanta violência hoje em dia?

Teorias não faltam, especialmente, tendências de cunho claramente sócio-econômico que levam a crer que a origem de nossos problemas está em fatores como a má distribuição de renda, a pobreza extrema a que a nossa sociedade condena irremediavelmente certos setores de nossa população, o aumento de desemprego e outros fatores desta espécie, tidos como formas de reação de ressentimento ou de desespero pela sobrevivência.

Não se deve desprezar estes fatores, são pungentemente reais e não resta a menor dúvida que, onde estiverem presentes, a violência apresentará índices maiores.

Mas reduzir a violência a uma forma de problema econômico me parece bastante ingênuo, tudo parecendo indicar que a origem da violência em nossa sociedade é algo de mais profundo.

Um dia destes, percorrendo o meu sistema de TV a cabo, à cata de algo interessante (para mim), fiquei, de repente, impressionado pela quantidade de programas que apresentavam alguma forma de violência, desde filmes ou seriados policiais, aventuras de guerra, notícias de guerra, assaltos, desastres, inclusive desenhos animados orientais e até agressões em campo de futebol e um anúncio de programa de lutas. Cheguei a me dar ao trabalho de um pequeno levantamento estatístico, concluindo que 30 dos 42 (71%) programas, naquele momento, apresentavam alguma forma de violência! Este índice não pode valer para nenhum trabalho acadêmico, pois não foi cercado de nenhum critério específico ... mas, para mim, naquele momento, me pareceu bastante evidente a influência da televisão sobre o estado da coisa.

Mas, logo a seguir, me lembrei de um psicólogo, por sinal em uma entrevista na própria televisão, que aventou não ser eventualmente tão ruim assim e que a violência na televisão talvez funcionasse como uma forma de catarse, uma maneira de botar para fora e satisfazer impulsos negativos, sem realmente executá-los no mundo real.

Sim, ele pode ter razão, em muitos casos, ... e não resta a menor dúvida que a televisão, cinema, gibis, vídeo games, etc ... , como cheguei a pensar, podem ser um estímulo à violência ... mas nem ele, nem eu chegamos ainda ao cerne do problema. Pois se a televisão agisse como catarse, não deveria estar havendo mais violência ... e se eu tinha razão, então deveria ter muito mais violência do que de fato, se observa.

Algo bem mais básico, e no fundo bem mais simples de considerar, é que a televisão é uma entidade econômica, destinada a fazer lucro e portanto, susceptível à grande regra econômica que é de agir de forma organizada e intencional para gerar lucro. E neste caso, a televisão vai atras de audiência e de dar ao público, aquilo que, ele, o público quer ver.

Então, longe de achar que a televisão tem algum intento satânico de divulgar e promover a violência, o mais provável é que a televisão apenas reflita algo que o público quer, deseja e procura. Alias, exatamente o que o psicólogo alegou quando se referiu a satisfazer impulsos negativos, sem executá-los.

Mas isto é algo inusitado que a maioria das pessoas negaria solenemente e poucos se atrevem a dizer abertamente que o público deseja ver e gosta de violência.