quinta-feira, 19 de junho de 2008

Pode ser uma ilusão ....

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Foto tirada de meu terraço ontem ...

Pode ser que a beleza deste pôr-de-sol esteja apenas na minha percepção, uma ilusão ... mas que é lindo de morrer, não resta a menor dúvida.

E quando partir, vou sentir saudade desta linda Terra ... e espero que posso levar comigo pelo menos a sensação com que este portentoso crepúsculo preencheu minha alma por uns preciosos momentos!
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quinta-feira, 12 de junho de 2008

A beleza não existe na natureza

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Tudo começa com uma cena final de um filme (creio ser do Herzog), onde aparece um velho gramofone tocando uma ópera no meio de um deserto ... a camara afasta um pouco mostrando que não tem ninguem escutando ... e o som se esvai simultaneamente ... ficando apenas um enorme e solitário silêncio.

Esta cena ressalta de forma magnífica que é necessário um ouvido humano para que exista a música. Sem ouvido humano, a música é apenas um som ... não, nem um som, uma vibração do ar no meio de uma multitude de vibrações, absolutamente sem sentido. Existe seres vivos que não ouvem as faixas para as quais nossos ouvidos estão preparados e existe seres vivos que ouvem outras faixas de vibrações. Existe seres humanos que são surdos e para os quais som e música não fazem o menos sentido.

A música, a beleza que há nela, somente existe para um ser humano. A música não existe na natureza como tal. A fala humana, os belos discursos, os poemas, as declarações de amor, tambem, não existem como tais na natureza. Existem apenas quando um outro ser humano os escuta (e os entende). Senão, é como falar - ou tocar uma ópera - no deserto.

Da mesma forma, não existem cores na natureza.

Existem ondas eletromagnéticas que se propagam e se refletem na natureza. Uma faixa destas ondas sensibilizam os olhos humanos e se manifestam como percepções de cores e imagens. Da mesma forma, existem seres vivos totalmente insensíveis ao nosso espectro visível. E existem seres vivos sensíveis ao infra-vermelho, ultravioleta, etc ... Existem seres humanos daltonicos ou então, cegos.

Nós não vemos os objetos : mas apenas a reflexão da luz neles. Basta apagar a luz, nós não vemos mais nada.

É preciso tambem relembrar que os objetos, em si, tambem não tem cores. Uma folha de árvore não é verde. Um tomate não é vermelho. Somos nós que os vemos assim. Para um daltonico, a folha e o tomate têm a mesma cor! Alias, nada garante que aquilo que eu vejo como vermelho, tem no meu cérebro, a mesma percepção que no seu, podendo, por exemplo, minha sensação de vermelho ser igual à sua sensação de amarelo.

Segue-se disto que uma pintura genial é uma completa inexistência para um cego ou para um animal que enxerga em outra faixa de ondas.

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Daí, como sons e cores não existem na natureza, as harmonias que reconhecemos numa frase musical ou numa composição cromática tambem não existem na natureza. Elas só existem porque as reconhecemos como tais em nossas percepções.

Esta beleza não existe na natureza mas somente em nós.

E vai morrer conosco, quando nossa capacidade perceptiva se extinguir com a nossa morte, ou então, simplesmente com a nossa inconsciência.
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A Beleza é um conceito humano

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A beleza é um conceito humano, não universal.

Não vale para outros seres. Será que os Anjos vêem a beleza como nós a vemos?

Os animais, certamente, parecem ser indiferentes à beleza, pelo menos para aquilo que nós, humanos, chamamos de beleza.

Diga-se de passagem, o conceito de beleza, mesmo nos humanos, tem sofrido variações enormes entre grupos de diferentes culturas e em diferentes épocas. Alias, em muitos humanos, nota-se uma indiferença para com a beleza, bastante próxima à dos animais.

Será que a beleza, que é tão fugidia e instável, e que nunca recebeu uma definição digna de nota, será que a beleza existe? Ou será apenas mais uma ilusão, um condicionamento social no meio de tantos outros?

Será que estes homens indiferentes à beleza são seres insensíveis? Ou serão talvez mais sábios, no sentido de não se deixarem afetar por uma ilusão?
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segunda-feira, 9 de junho de 2008

Nossa essência primordial.

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Estava matutando sobre as diversas formas de arte e considerando, por exemplo, que existem algumas formas que se desenvolvem no tempo, como a música ou a dança. Outras, como a pintura e a escultura, não.

Mas é uma ilusão achar que a pintura e a escultura, embora estáticas em sua apresentação, não dependem do tempo. Levam tempo para serem feitas!!

Alias, nada que o homem faz é independente do tempo. O trabalho dele leva tempo, ir e voltar do trabalho leva tempo, estudar leva tempo, comer uma refeição leva tempo, fazer amor leva tempo, gerar um filho leva tempo, um jogo de tênis leva tempo, pensar leva tempo, tudo, até nossos sentimentos, nossas percepções, nossos desejos levam tempo.

Sem tempo, não haveria memória. Não haveria história. Não haveria absolutamente nenhum movimento, de qualquer espécie.

Alias, não haveria nem nascimento nem morte. Não haveria vida. Simplesmente, não haveria humanidade. Não existiria nosso planeta. Nada no universo existiria. O Universo não existiria.

O Tempo é a natureza mais íntima, mais básica da Vida e da Existência. O Tempo é a essência primordial do Homem.

Isto é quase chocante, pois sempre nos disseram que a Alma, o Espírito são a essência primordial do homem.

E como ninguém jamaia apresentou uma definição muito precisa do que seja o Espírito, será que o Espírito e o Tempo, dentro deste contexto, não são, no fundo, a mesma coisa?

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P.S. Este tema me foi sugerido pela introdução do filme "Contra o Tempo".
Embora esta apresentação seja ótima, o filme em si é uma soberba idiotice
e recomendo, veementemente que não o assistam

Maturidade

Conheço algumas pessoas que chegaram à velhice, e provavelmente morrerão .... antes de alcançar a maturidade.

Está certo, não me refiro apenas à maturidade física .... Eu estou, propositadamente, comentando sobre a maturidade psico-emocional.

Porque aquilo que alguém me referiu, sobre "aproveitar a vida no que ela tem de melhor, saber agradecer cada amanhecer e cada anoitecer, viver a cada dia os seus problemas e a cada dia as suas horas em plenitude.", não é uma questão de idade, mas uma questão de maturidade emocional (ou espiritual, se se preferir esta palavra)

Tem gente moça que tem isto. E tem gente que sai da idade adulta, diretamente para a senilidade, amarga e ranzinza, sem nunca ter amadurecido.

Sem nunca ter tido ou ter dado bons frutos.

Nem todo mundo chega a ficar velho. Uns morrem antes ... mas a velhice vem para a maioria de nós, é verdade ....

O que é realmente inexorável é a morte, não a velhice.

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P.S. Tem um verbete em nosso idioma muito interessante : agerasia = estado de quem apresenta aspecto bem mais jovem do que o que seria de esperar, tendo em vista a idade avançada.

É bom ser lembrado ....

Me recordo de um episódio na minha vida profissional :

Me dirijo à sala da reunião da qual ia participar. Com um pouco de antecedência, como sempre foi meu hábito. Lá está um colega, já sentado, os cotovelos na mesa e a cabeça entre as mãos.

-"Uai, que houve?"
-"Que houve? que houve? Lhe digo! Minha mulher, eu tirei da casa dos pais dela : então, tenho que lhe dar atenção. Os meus filhos, eles não pediram para vir, eu os trouxe a este mundo : então, tenho que lhes dar atenção. Meus pais, já estão velhinhos, me deram tanto : não posso deixar de lhes dar atenção, também. Meus funcionários, se eu não der atenção, já viu, acabam me sabotando. Meu chefe é meu chefe, não é? É bom eu dar atenção e bastante!

E a mim, quem é que me dá atenção? Quem?"

É muito bom ser lembrado.

Como dizia Aznavour "Laisse moi la chance de me faire aimer!"