sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Descobrindo o mundo ....


Mattéo aos 7 mêses

sábado, 15 de setembro de 2007

Os livros e eu (2)


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Esta foto é do meu pai. Não sei bem a data, certamente lá pelos idos de 1935, antes da guerra.
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Eu não tinha nascido ainda mas herdei a sua paixão pelos livros.

Meu pai era um homem inteligente, que passei a admirar muito sobretudo a partir de minha adolescência, especialmente pela clareza de suas idéias. E mais tarde, por ser capaz de reconhecer sua integridade moral, sua labuta pessoal.

A vida dele não foi um mar de rosas. Órfão cedo, se educou e auto-educou até chegar sem quase educação formal até ser juiz adjunto (no Egito, era possível substituir a escola pela prática). Mal casou, foi parar em 1940 em um campo de concentração no meio do deserto (ele era italiano, em um país sob protetorado britânico - com a ironia que meu pai era a pessoa mais anto-belicista que eu conhecí!). Embora fosse um campo dirigido por britânicos e que não tinha os horrores dos campos dos alemães, deixou marcas. Nasci quando ele estava lá.

Saindo de lá, a duras penas e com a crise de desemprego e os problemas de reintegração, acabou trabalhando em uma firma de algodão e depois de seguros onde acabou galgando a uma posição relativa. Então, veio Nasser e a expulsão do país em 1957. Viemos ao Brasil e aqui recomeçou tudo.

Venceu as dificuldades depois de vários empregos e quando estava se acertando como subgerente de contabilidade de uma multinacional, e comprou a casinha, aconteceu o derrame (1972). Perdeu a fala por vários anos e a memória dos tempos recentes (embora mesmo assim continuasse capaz de jogar um surpreendente xadrez!). Quando conseguiu vencer a doença, recuperar a fala e reaprender o português, o coração começou a apresentar falhas e acabou falecendo em 1981.

Não teve as coisas fáceis. Sempre cuidou dos filhos e da família em primeiro lugar. Só tinha olhos para a nossa mãe. Era mesmo do lar, não tinha muitos hobbies que eu me lembre, gostava de ler, isto sim. Era um exemplo marcante de auto-ditatismo. Tinha uma bagagem cultural impressionante, falava vários idiomas que ele aprendera todos sem curso formal. Era meio filósofo e gostava de frases de efeito. Não lembro dele se interessar por esporte ou ter muitos amigos. Não tinha muita habilidade física ou com as mãos, os consertos em casa, quem fazia era minha mãe.

Em suma, era um bom homem, que não era muito expansivo ou talvez não conseguisse manifestar seus sentimentos mas a gente pressentia que ele os tinha e uma atitude nobre, sempre, mesmo sem grandes lances.

Não sei se a gente pode chamar isto de humildade, mas era certamente um homem de grande valor, embora simples e com uma atitude sempre modesta.
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sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Os livros e eu (1)

Abrir livros e jornais para tomar conhecimento, me escreve um amigo

Não ... isto é um sacrilégio ... não se abre um livro para tomar conhecimento ... se abre um livro para desvendá-lo, sorver em si a sabedoria do autor, ler e reler e vivenciar o autor .... não "tomar conhecimento".

Quanto a jornais, do jeito que eles estão hoje (dando ao leitor o que ele quer ver e ouvir, dentro da filosofia da indústria assim dita "cultural"), o risco de tomar conhecimento das notícias de jornal, é de passar a não tomar notícia das coisas reais, das coisas que realmente valem a pena se inteirar! E que não estão nos jornais ...

Curtas vidas ...

Já estou me aproximando dos 68 anos. A morte tem estado mais perto, amigos e parentes tem morrido à minha volta, atores e personalidades que admirava.

Não, não tenho propriamente medo da morte. Ou seja não passo o tempo todo pensando nela, terrificado com a idéia. Quer dizer, não sei como será quando a enfrentarei ... mas não vivo ansioso e apavorado, me dói um pouco saber que talvez não terei feito o suficiente quando ela chegar ... mas aí, devo reconhecer que terá sido muito mais pela minha culpa, minha indolência e falta de zelo, do que por ela ter chegado muito depressa .... isto sim, as vezes me deixa um pouco deprimido.

Mas basta um pouco de sol .... e me reanimo instantaneamente com este nosso lindo planeta .... de montanhas e rios e mares maravilhosos; de flores e plantas de tamanha beleza que congelam nossos corações; de pássaros e peixes e leões e tantos outros bichos nossos irmãos, que com sua inocência e magnificência, enchem este nosso planeta de vida e fervor.

Até meus humanos semelhantes, tão selvagens, tão cheios de si, vaidosos, cruéis, cheios de ganâncias, conflitos e guerras, até eles, devem ser perdoados por conta das belezas que criaram em seus cânticos e suas canções, em seus livros, em suas artes, pequenas e grandes, em suas catedrais e seus templos, em suas casas e suas cidades, e pela infinidade de coisas, engenhosas - e às vezes até grandiosas - que conseguiram gerar, malgrado sua fragilidade e suas limitações.

E suas curtas vidas.