sexta-feira, 16 de outubro de 2009

"Não se deve amar sem ser amado. É melhor morrer crucificado”


Verso de “Gosto que me enrosco” - Sinhô

Uma atitude típica do gostar e da paixão é a exigência de retribuição ou reciprocidade : como é que você não gosta de mim se eu gosto de você?

O tema do amor não-correspondido é o lamento mais freqüente entre os amantes, desde o tempo das cantigas medievais. É a queixa sobre o “amigo” (leia-se amante, em termos modernos) que traiu o amor que se lhe dedica, não necessariamente por uma infidelidade, mas por faltar em corresponder às expectativas que se tem dele.

Vi muita gente sofrer por amor não correspondido, rejeitado, incompreendido, ou por assim dizer, aplicado à “pessoa errada”, aquela que não corresponde. E é neste tipo de condição que se afirma que a pessoa é “infeliz no amor” e é quando surgem os ciúmes, as inseguranças pessoais, os medos, as frustrações e os conflitos.

E para complicar a situação, temos que lembrar que o amor é total, absoluta e irrevogavelmente ilógico. Da mais pura irracionalidade... Não precisa de tempo e certamente, não espera o menor pingo de incentivo para acontecer ...

Quem está apaixonado é quem nem bêbado (= olha na volta e vê todo mundo bêbado também) ... . Não consegue entender como o outro possa não estar apaixonado.

Podemos corresponder - podemos querer e nos levar a corresponder - ao carinho, ao respeito, ao entendimento em uma relação amorosa (adulta e consentida). Mas francamente, não consigo acreditar que uma nossa paixão por outra pessoa garanta (ou gere) uma paixão equivalente desta outra pessoa por nós. Não consigo me imaginar sentindo uma tal "obrigação", nem que ninguém possa vir a sentir.

Reconheço que o que vou afirmar é uma visão tipicamente masculina : tenho percebido muita mulher cobrando do homem a quem ama, este tipo de reciprocidade, mas tenho certeza que as mulheres são as primeiras a não se sentirem nem um pouco induzidas a retribuir uma paixão que lhe é dedicada – embora possam até se sentir lisonjeadas com o sentimento que provocam.

Ou por outra, podem até conservar em segredo, um certo ressentimento contido (ou até manifesto) pela pessoa (por mais méritos pessoais que possa ter) que veio ou quer "usurpar" o lugar, a intensidade ou o fervor, da sua verdadeira e original paixão em seu coração?

Alias, por falar em méritos pessoais, gostaria apenas de citar, de passagem, que não há nada, absolutamente nada que uma pessoa possa fazer para conseguir a paixão de outra pessoa, que já não estivesse lá, em primeiro lugar! E quanto mais fizer por merecer (neste caso, pode até ser qualificado de “assédio”), o mais provável é que venha a ser desprezado e até hostilizado por tentar se apossar de um sentimento sobre o qual "não tem direito"!

O amor sempre é recebido de presente. Podemos conseguir a simpatia ou a gratidão de outra pessoa ou o seu respeito por nossas atitudes. Amor-paixão, nunca. Pois a paixão é algo muito primário, vem de nossas entranhas, tem enormemente a ver com o afloramento do nosso inconsciente, bem menos "controlável" que o amor fraternal ou familiar, a amizade, o amor devotado de um casamento estável, etc .

Inversamente, é só olhar à nossa volta e verificar quantas pessoas são amadas apesar de seu comportamento e de seu merecimento, filhos cruéis e bandidos que têm o amor de sua mãe, até o último alento; mulheres que continuam amando seu homem apesar dos maus tratos; ou homens que adoram sua mulher apesar de todas as traições que recebem, e outros tantos exemplos de menor dramaticidade.

Precisamos nos conscientizar da verdade que não existe lógica nem merecimento neste assunto de amor ou de sua falta : ou a gente ama alguém ou a gente não ama, pronto! É tão simples assim. Não encontrei ninguém que me explicasse como uma pessoa pode vir a amar alguém que não amava em primeiro lugar espontaneamente, nem como pode ser induzida a, ou treinada para aprender a amar alguém específico.

Mas não nego que possa existir reciprocidade, e com relação a isto, existe uma boa e uma má notícia. A boa notícia é que o amor genuíno pleno e recíproco é uma graça dada pelos deuses. A má notícia é que são eles, os deuses, que dão esta graça, não se sabe bem como decidem, mas parece mais uma destas coisas que a pessoa não pode fazer nada a respeito.

No fim das contas, o amor correspondido é algo muito, muito raro. Como já disse, reservado para uns poucos eleitos .... tanto é que para estes poucos eleitos, os Romeus/Julietas ou Tristãos/Isoldas, é que se escreveram romances e poemas para serem inscritos nos anais da Humanidade.

Considero privilegiadas as pessoas que tenham tido a fortuna de sentir uma verdadeira paixão em sua vida. Retribuída ou não. O resto, a grande, a enorme maioria, apenas se ajeita ou se acomoda com uma relação de conveniência, que, bem ou mal, freqüentemente se converte em uma relação de camaradagem, que espanta os infortúnios da solidão a que estamos todos sujeitos!
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9 comentários:

amiga_caçula disse...

TENHO QUE CONCORDAR QUASE QUE PLENAMENTE COM ESTE TEXTO TÃO REALISTA e triste... assim sinto!

SÓ DICORDO QUE SERES "ELEITOS" RECEBERAM ESSE DOM DE AMAR DOS DEUSES.
NADA É NOS DADO, NEM AS COISAS BOAS OU MÁS; TUDO É CONSTRUÍDO POR NÓS!

PORISSO... TALVEZ TANTOS SE AFASTEM DE DEUS POR SENTI-LO UM SER PARCIAL E INJUSTO.... qdo dá para uns, excluindo os outros.

SE EU PENSASSE ASSIM, TALVEZ ESTIVESSE COMO O MEU IRMÃO SHIOST, DESCRENTE DE TUDO O QUE SE CHAMA DIVINO.

Polemikos disse...

Maria Cecília, nós estamos falando das mesmas coisas .... mas com uma linguagem um pouco diferente. Quando digo "deuses", estou me referindo às hierarquias que organizam o mundo dos humanos ... inclusive seu carma.

A nós, não é dado entender as coisas divinas, não temos nem competência nem alcance : então, o conceito de "justiça divina" é muito relativo pois estaríamos tentando equiparar os desígnios divinos aos parâmetros humanos.

Quem somos nós para julgarmos a "parcialidade" ou "injustiça" da Natureza (se é que existem em termos humanos)?

Não nego a Divindade, nem a Providência Divina .... apenas reconheço que não as possa entender.

amiga_caçula disse...

O GRANDE PROBLEMA É EXATAMENTE ESSE... ACREDITAR EM PARCIALIDADE OU INJUSTIÇA DIVINAS.

SEMPRE A CONCEPÇÃO ANTROPOMÓRFICA DE DEUS LIMITANDO O PENSAMENTO DAS PESSOAS!

FOI ISSO O QUE EU QUIZ DIZER!

amiga_caçula disse...

CONCORDO... "O AMOR QUE JÁ ERA É O AMOR QUE NUNCA FOI".

ERA ATRAÇÃO, SIMPATIA, PAIXÃO... QUALQUER COISA PARECIDA.

INFELIZMENTE MUITO POUCOS CONSEGUEM REALMENTE AMAR.

O QUE PARA VOCÊS É AMAR???

primacaçula disse...

MESMO QUE NÃO SEJA CORRESPONDIDO DEVE SER MUITO BOM SENTIR ASSIM.

primacaçula disse...

ÊTA VERDADE VERDADEIRA!!!!!!!!!!

Polemikos disse...

Pior do que a dor de amor, deve ser a dor de não ser capaz de amar. Uma espécie de abdicação do direito pleno á vida.

E não estou me referindo ao amor romântico.

Tem pessoas que QI alto e tem pessoas que tem QI baixo. E não há muito que se possa fazer para aumentar o QI baixo. Ler, estudar, etc ... aumenta a cultura, mas não o QI.

Assim é com o QA (para quem não adivinhou : é o quociente da capacidade amorosa). Existem pessoas com QA alto. E existem as com QA baixo. Uma questão de natureza inata.

A pessoa acorda um dia e de repente, se pergunta :

Por que carga d´água sou incapaz de amar (legitimamente, espontaneamente)?

Não é uma questão de esfôrço ou de aplicação. Simplesmente, a coisa não está lá, uma falha estrutural. E é como a inteligência, não é possível se ser desenvolvida.

Creio que até tem um nome para isto = atimia.

Polemikos disse...

Nice. Se chorou na viagem pra nos contar depois .... é que chegou bem. Fico feliz e desejo-lhe uma boa estadia.

Tudo de bom para a mãe e o filho.

Polemikos disse...

Nice. Se chorou na viagem pra nos contar depois .... é que chegou bem. Fico feliz e desejo-lhe uma boa estadia.

Tudo de bom para a mãe e o filho.