terça-feira, 8 de junho de 2010

As brasas

Acabei de ler este livro escrito por Sándor Márai em húngaro. Apesar da versão em português ser uma tradução da tradução em italiano do original em húngaro, é um livro muito bem escrito. E altamente intrigante.

Trata-se de um longo solilóquio, com pouco enredo e poucos personagens, o que certamente o torna um tanto enfadonho e monótono para o grande público. Mas é um livro intensamente humano.

Alguns excertos :

pg. 15 - As duas vidas fluíam juntas, no mesmo lento ritmo vital {... }. Conheciam-se a fundo {...} mais do que marido e mulher. {...} Nenhuma palavra podia definir a relação entre eles. Não eram irmãos nem amantes. Mas existia algo diferente {...}. Existia uma fraternidade particular que é mais íntima e mais profunda que essa que une os gêmeos no útero materno. A vida mesclara seus dias e suas noites, cada um tinha consciência do corpo e dos sonhos do outro.

pg. 53 - ... e tudo o que significa o amor : desejo, ciúme e um desesperado sentido de solidão.

pg. 75 - Para mim, aquele mundo continua vivo, mesmo se na realidade não existe mais. Está vivo porque jurei fidelidade a ele.

pg. 83 - O homem {...} que entregou sua alma e seu destino à solidão, não acredita em nada. Espera e só.

pg. 93 - ... as palavras não tem importância? {...}. As vezes acho que as palavras, essas que pronunciamos, essas que evitamos dizer, essas que escrevemos {...} têm uma importância imensa, talvez decisiva

pg. 95 - Quem você é? O que {quer} de verdade? O que {sabe} de verdade? A quem e a quê {é} fiel ou infiel? São essas as perguntas capitais. E cada um responde como pode, com sinceridade ou mentindo; mas isto não tem importância. O que importa é que no final cada um responde com a própria vida.

pg. 127 - O que se pode perguntar com as palavras? E quanto vale a resposta que alguém dá com as palavras, em vez de expressá-la com a realidade da prória vida?

pg. 134 - E, assim como as pessoas que pertencem ao mesmo grupo sangüíneo são as únicas que podem doar sangue a quem é vítima de um acidente, assim também um espírito só pode socorrer outro se não for diferente dele, se sua concepção do mundo for a mesma, se entre os dois existir um parentesco espiritual.

Um comentário:

amigacaçula disse...

Achei muito interessante essas frases do livro. Trazem grandes reflexões que poderíamos aqui escrever. Quem sabe outra hora, com mais tempo.

Quanto a um Espírito poder socorrer só aquele que é semelhante a ele, não é o tenho observado.