
Os Natais de minha infância, no Egito, eram bem diferentes dos que vejo hoje.
Fui criado na religião católica, uma condição de uma minoria, em um pais majoritariamente muçulmano. Havia outros credos cristãos entre os estrangeiros radicados mas por serem também minorias, havia uma intensidade mais acentuada na conservação dos nossos rituais e na preservação de nossa identidade.
Lembro da Missa a que ninguém faltava, das visitas que a gente fazia aos familiares, do presépio e da árvore de cuja montagem as crianças participavam ativamente, ouvindo as estórias sobre o Nascimento do Menino Jesus, a visita dos Reis Magos, a Fuga da Santa Família e todas estas coisas que iluminavam minha imaginação de criança.
E do presente – único - que cada criança ganhava e que por isto era aguardando com uma enorme expectativa e esperança!
Todos estes rituais, o presépio, a missa ... mantinham uma certa aura de sagrado que considero fundamentais.
O consumismo de hoje, o excesso de propaganda banalizou muito do Natal .... que se tornou apenas mais uma oportunidade de nos fazer gastar dinheiro!
Hoje, o Natal perdeu uma enorme parcela de sua "religiosidade" no processo.
Há quem diga que Jesus nasceu 6 anos antes, no final de Setembro, que a Igreja mudou a data, por conveniência política, para combater as festividades do solstício (saturnálias), etc ... Sabemos que certas tradições, como da Árvore, em realidade nada mais são que um prolongamento (ou adoção) de tradições pagãs, como também a figura de Santa Claus ou a troca de presentes.
Mas não foi isto, em particular, que ajudou a perder a sacralização da data .... foi realmente o comércio o maior golpe.
Substituímos a Reinado do Menino Jesus pelo reinado de Maimon, o Deus-Econômico! O Espírito não tem mais lugar neste nosso mundo, onde o único deus é o deus do dinheiro, do lucro e da posse.
Os templos modernos são os shopping centers. E Jesus seria certamente preso se tentasse – como certamente, tentaria - debandar os mercadores dos "t"emplos, não é verdade?
Nossos filhos e nossos netos têm um incalculável quantidade de brinquedos, não sabem nada da data a não ser que é uma ocasião de festas, comilanças e de um monte de presentes. O que ganharam em quantidade e sofisticação, não substitui a magia e o encanto que havia nos Natais de antanho.
Quanto ao significado espiritual do Evento, se já não era muito divulgado na época, certamente desapareceu quase por completo hoje em dia.