Então, certamente existe uma evocação mística para a Passagem, mais especialmente a Passagem do Ano.
Desde os mais remotos tempos da Humanidade, e as primitivas culturas agrícolas do tempo do Neolítico, as religiões sempre tiveram um lugar todo especial para a Passagem do Ano. Os homens primitivos não podiam deixar de observar o ritmo cíclico da Natureza, inclusive por uma questão de sobrevivência. Não desconheciam os fenômenos dos equinócios e de sua importância para o planejamento das culturas e o começo dos trabalhos. Por isto, em muitos calendários de civilizações antigas (do hemisfério norte), o Ano começa em Março.
Tanto é verdade que o nosso calendário gregoriano também chegou a começar em Março, bastando observar os nomes de Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro, que então eram o sétimo, oitavo, nono e décimo mês. A influência da astronomia persistiu em todas as religiões inclusive a cristã. É um fato pouco divulgado mas a data da Páscoa é definida como sendo o primeiro domingo após a primeira lua cheia seguinte ao equinócio da primavera do hemisfério norte.
Voltando ao nosso tema principal da Passagem do Ano, existia o conceito que "a função dos deuses e a condição humana são regulados pelo mesmo ritmo cíclico (da Natureza)".
As religiões primitivas se concentraram em torno do "mistério do nascimento, da morte e do renascimento, identificado ao ritmo da vegetação". São religiões cósmicas centradas na concepção de que. "O Universo é ... um organismo que deve ser renovado periodicamente"
"Já que o Mundo deve ser renovado periodicamente, a cosmogonia será ritualmente repetida por ocasião de cada Ano Novo."
A idéia fundamental – renovação do Mundo pela repetição do ritual cosmogônico – é bastante difundida. Encontra-se não somente nas civilizações do Oriente Médio, na Índia védica, na Pérsia antiga, na Mesopotâmia, mas também sob as mais diversas formas, no Japão, na Austrália, nas tribos da América do Norte. E chegou até nós, através da Grécia Clássica.
Freqüentemente, as cerimonias anuais da renovação são associadas, enquanto conectadas à vida vegetal, ao culto da Árvore Cósmica ou Árvore da Vida, "suposta encontrar-se no Centro do Mundo’, unindo a Terra ao Céu. O mito da Árvore da Vida, também chamada de Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, é retomada na Bíblia. E persiste de diversas formas ao longo da História. Os antigos germanos de toda a Europa Setentrional tiveram o culto à Árvore Cósmica.
E os primeiros cristãos associaram a Cruz, "feita do madeiro da Árvore do bem e do mal e é identificada ou substitui a Árvore Cósmica". A Cruz foi chamada de Árvore do Mundo ou Árvore da Vida.
Não é apenas uma coincidência termos Árvores de Natal na época da Passagem do Ano.
Todas as citações são do Mircea Eliade - Hisória das Crenças e Idéias Religiosas.
10 comentários:
É muito interessante tudo isso. Sempre me senti atraída, mais que isso, fascinada por esses assuntos que oferecem explicações sobre a Origem das coisas. E sobre os meses, que Jesus teria nascido em fevereiro (sob o signo de Peixes) e não em Dezembro. E a origem de Adão e Eva, representantes da Raça Azul... Nossa! Tem tanta coisa para se pesquisar...
Há até quem diga que Jesus nasceu em Setembro ... não tem a menor importância.
Com tantos calendários, as diferenças entre eles e os incessantes ajustes (inclusive políticos) que lhes fizeram, ninguém, no fundo, tem a menor certeza sobre as datas ...
Mas que espicaça a curiosidade, também é verdade...
Verdade, espicaça ( 'tamos difíceis, hoje!) ...
Tive um professor que nos ensinava sempre a olhar para a "natureza" das coisas.
Por exemplo, curiosidade é da natureza do cientista. Ele que procura, investiga. Ela é ótima para estudar Física e .... tambem História das Religiões.
Agora, é da natureza da religiosidade constar a Fé. Se não houver Fé, não há religiosidade.
E a Fé, minha cara, não discute, não fuça e ... não tem curiosidade.
Ela "sabe" tudo o que tem que saber. E se basta.
E se v. acha que fiz um comentário maldoso sobre a Fé, fique sabendo que o Homem que tem Fé é feliz, ... e o pobre do cientista vive amargurado e infeliz, despedaçado por suas dúvidas.
Concordo mais uma vez com vc, Polemikos: "O homem que tem fé é feliz".
É muito interessante o que escreveu para aumentarmos o nosso conhecimento.
Quanto à renovação do universo o que falei no Provérbios sobre o Ano Novo é nesse sentido.
Conversando com uma amiga, ela me dizia sobre algo que leu no livro O Segredo. "Acontece conosco como as estações do Ano; temos o nosso inverno, outono, primavera, verão. Porque seríamos diferentes da natureza se somos parte integrante dela"?
Quanto a Jesus, importa quando nasceu?
Não, importa que nasceu, cresceu na terra e deixou para os homens os mais lindos ensinamentos.
Não está na hora de você recomeçar também?
Com respeito, carinho e atenção comento que o título foi "para mim" um pouco enganoso.
Comecei a leitura imaginando algum retrospecto sobre os acontecimentos das festas de fim de ano.
Sobrevivemos todos (do nosso grupinho do blog) e estamos aqui. No meu caso com bastante atraso e demora, mas cá tou.
Época também de propósitos e metas para o ano que já está na segunda metade do segundo mês. Tenho no cofre um segredo de uma meta para este ano, que por enquanto está só no propósito.
Já algo que todos sabem é que neste ano vamos dar um jeito de um encontro muito alegre para nos conhecermos pessoalmente, blogueiros e comentaristas.
Vamos nessa Turinão.
Meu caro Caos : eu não disse "minha passagem de ano". Portanto, não enganei ninguém {risos}.
Minha vidinha é muito simples, (certamente não abdico dela, especialmente porque é a única que tenho) ... mas não tem grandes lances. Minha passagem de ano foi tranquila e feliz junto com meus filhos e netos.
Quis apenas refletir o quanto estamos mergulhados na História da Humanidade que nos permeia, bastando apenas um pouco de atenção e reflexão para nos sentirmos parte.
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