quinta-feira, 12 de junho de 2008

A beleza não existe na natureza

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Tudo começa com uma cena final de um filme (creio ser do Herzog), onde aparece um velho gramofone tocando uma ópera no meio de um deserto ... a camara afasta um pouco mostrando que não tem ninguem escutando ... e o som se esvai simultaneamente ... ficando apenas um enorme e solitário silêncio.

Esta cena ressalta de forma magnífica que é necessário um ouvido humano para que exista a música. Sem ouvido humano, a música é apenas um som ... não, nem um som, uma vibração do ar no meio de uma multitude de vibrações, absolutamente sem sentido. Existe seres vivos que não ouvem as faixas para as quais nossos ouvidos estão preparados e existe seres vivos que ouvem outras faixas de vibrações. Existe seres humanos que são surdos e para os quais som e música não fazem o menos sentido.

A música, a beleza que há nela, somente existe para um ser humano. A música não existe na natureza como tal. A fala humana, os belos discursos, os poemas, as declarações de amor, tambem, não existem como tais na natureza. Existem apenas quando um outro ser humano os escuta (e os entende). Senão, é como falar - ou tocar uma ópera - no deserto.

Da mesma forma, não existem cores na natureza.

Existem ondas eletromagnéticas que se propagam e se refletem na natureza. Uma faixa destas ondas sensibilizam os olhos humanos e se manifestam como percepções de cores e imagens. Da mesma forma, existem seres vivos totalmente insensíveis ao nosso espectro visível. E existem seres vivos sensíveis ao infra-vermelho, ultravioleta, etc ... Existem seres humanos daltonicos ou então, cegos.

Nós não vemos os objetos : mas apenas a reflexão da luz neles. Basta apagar a luz, nós não vemos mais nada.

É preciso tambem relembrar que os objetos, em si, tambem não tem cores. Uma folha de árvore não é verde. Um tomate não é vermelho. Somos nós que os vemos assim. Para um daltonico, a folha e o tomate têm a mesma cor! Alias, nada garante que aquilo que eu vejo como vermelho, tem no meu cérebro, a mesma percepção que no seu, podendo, por exemplo, minha sensação de vermelho ser igual à sua sensação de amarelo.

Segue-se disto que uma pintura genial é uma completa inexistência para um cego ou para um animal que enxerga em outra faixa de ondas.

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Daí, como sons e cores não existem na natureza, as harmonias que reconhecemos numa frase musical ou numa composição cromática tambem não existem na natureza. Elas só existem porque as reconhecemos como tais em nossas percepções.

Esta beleza não existe na natureza mas somente em nós.

E vai morrer conosco, quando nossa capacidade perceptiva se extinguir com a nossa morte, ou então, simplesmente com a nossa inconsciência.
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8 comentários:

marianicebarth disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
marianicebarth disse...

Dá para compreender e até para concordar com tudo o que você falou.
Mas eu prefiro agradecer a Quem criou meu cérebro com a capacidade de interpretar a visão de meus olhos ao enxergarem as cores e as formas das coisas; pelos meus ouvidos de ouvirem (e bem!) as vibrações sonoras que me enlevam de maneira tão completa, assim como as que me alertam para o perigo... Os perfumes maravilhosos que me levam a quase levitar... assim como os cheiros repelentes que me avisam de algo a evitar; e os sabores deliciosos das frutas ou de um doce "pecaminoso"... E a sensibilidade alucinante de minha pele, das pontas de meus dedos, que adoram alisar o cabelinho de uma criança pequena, o dorso de um gatinho ou de um coelhinho e que não desejam fazer a mesma coisa com um escorpião ou uma aranha, ou mesmo no interior da chama de uma lareira...
Nascemos com uma boa noção do que é BOM e do que é MAU para nós e o que não sabemos, nossos familiares nos ensinam...
Tudo é tão perfeito, que só posso sentir uma tremenda pena de quem não possue tudo isso...
Agradeço também a Ele a sensibilidade para apreciar a poesia, uma declaração de amor ou de amizade, entendê-la e valorizá-la...
Que ótimo que, mesmo apagando a luz, sei que as coisas continuam iguais aos meus olhos, que quando a música parar, ela continuará viva em minha memória.
Enfim, tudo o que você nos fez lembrar aqui, fez também com que nos lembrássemos de quanto somos agraciados e felizes por ter todos esses sentidos... mesmo que seja tudo ilusão desses mesmos sentidos. Que bela ilusão!
Esta sua postagem me pegou num momento de minha vida em que estou sinceramente grata ao Criador pelas dádivas, que não são poucas...

Polemikos disse...

O que v. escreveu me inspirou para escrever

A Beleza só existe na Natureza!

(Não é inconsistente : observe as maiusculas)

me aguarde!!

caos e ordem disse...

O texto me fez lembrar uma história que contavam na cidade de Pirajuí, onde morei até o ano de 1975. O dono da casa tocava acordeão e tinha um macaco que apareceu morto inesperadamente. O que se dizia era que o bicho morreu de sofrimento pelas músicas que ouvia do acordeom.

Anônimo disse...

Infelizmente não posso concordar com você. Acredito que os sons, as cores, os objetos podem ser ouvidos, vistos e sentidos mesmo por aqueles que não possuem mais os órgãos físicos direcionados a tal quando possuímos um corpo material. Desculpe, mas tenho notícias diferentes dessas de "outras fontes".

Polemikos disse...

Amiga_Caçula : Estou - realmente e sinceramente - aberto a ouvir sobre sensações na ausência de órgãos físicos (direcionados, como v. diz).

Sons, cores, etc ... têm uma manifestação - ou uma correspondência - aos níveis etérico-astral?

irmãcaçula disse...

EXATAMENTE, é apenas o que posso responder aqui!

Anônimo disse...

Achei importantíssima a última frase... " OU ENTÃO, COM A NOSSA INCONSCIÊNCIA! Este é o grande X da questão.