quarta-feira, 12 de agosto de 2009


"Nesse ponto (da vida) ... nada mais acontece ... a não ser dentro de nossas próprias cabeças ..."
Eric Hobsbawm em Tempos Interessantes

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Tenho uma característica de pensar e refletir muito melhor quando escrevo. Possivelmente por ter mais tempo de construir meu pensamento e sentir-lhe a veracidade.. Creio que se poderia concluir que o meu pensar é devagar ... assim como o meu gosto por música (se tiver muitas notas, muitos instrumentos ou muita rapidez ... me perco!).

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Não que não consiga sustentar uma discussão verbal .... afinal fui um executivo de multinacional e operava em uma área que exigia constantes e seguidas negociações com parceiros de negócios.
É certamente uma limitação .... eu reconheço que não sou nenhum Aristóteles e não adoto o método improvisado de filosofia verbal enquanto passeio .... em todo caso, gosto de pensar e refletir. E escrever é como me sinto confortável com isto pois só assim, consigo alguma profundidade e segurança

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Reconheço que o que escrevo é meio pomposo e não pode agradar a grande maioria, e certamente não ganharia nenhum prêmio de popularidade, se posto em livro. A começar, que exige que a pessoa pense .... e isto muitos poucos gostam de fazer ... O povão quer coisas light, piadas ... ou então, esperanças enlatadas à la Paulo Coelho ou Lair Ribeiro.


Falar é para outras coisas.
E não, não falo do modo que escrevo ... Deus me livre! Sou um pouquinho mais espontâneo .... mas falar, assim mesmo, não é meu forte. Não sou muito de papo furado ou de jogar conversa fora. Quer dizer, eu tenho um limite de papo-furado, aí me entendio, e fico observando o grupo, meio de fora, como se não fosse comigo, entre enfastiado e admirado que se possa gastar tanta energia com tão pouco conteúdo. Em especial, não tenho nenhuma paciência sobre papo de futebol.
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É verdade que gosto de ficar sozinho de vez em quando, mas isto não é um problema, é uma característica. É uma forma de me recarregar. Sou, sim, uma pessoa um tanto reservada - alguns diriam, introvertida – mas, definitivamente, não sou anti-sociável.
Gosto de meus amigos e não fujo deles. Mas gosto, de vez em quando, de minha "sozinhez.". (Sozinhez é apenas estar sozinho, diferente de solidão que é estado emocional de estar querendo o outro e não o ter!) Eu não curto solidão, como também não curto de doenças.

Minha solidão maior é a falta de diálogo inteligente, sobre as coisas da Vida e do Espírito. A maioria das pessoas só falam de futebol, novela, fofoca, crise econômica, falta de segurança, corrupção política e assemelhados ... A leitura supre uma boa parte desta necessidade que vejo que pouquíssimas pessoas tem : as vezes, me sinto tremendamente deslocado, e até certo ponto, inadequado para este mundo em que vivemos! Em tempos de abundantes mediocridades, sinto-me um peixe fora d’água, gostando de arte, leitura, filosofia, psicologia e religiosidade : tenho que lutar inclusive contra meus próprios condicionamentos ... mas levo um mínimo de vantagem eis que me dou relativa conta do que acontece ao contrário de muitas pessoas.
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Mas assim mesmo, um livro ainda é um objeto inanimado e frio. Certamente, me põe em contato com seres humanos e seu pensamento, mas falta o calor do toque, o brilho nos olhos, a cumplicidade!
 
Li recentemente uma frase de Herman Hesse que me chamou a atenção : "Passe algum tempo em solidão." Creio que para mim, o contrário seria hoje muito mais importante : passar algum tempo em intimidade com alguém. E não estou usando nenhum eufemismo para me referir a um relacionamento sexual, apenas à necessidade de comunhão em pensamento, àquela cumplicidade de enfoque de vida que faz tanta falta ...
Gosto muito de pessoas inteligentes. Embora a inteligência não é a melhor qualidade do ser humano (mas sim a compaixão), tenho uma predileção legítima por pessoas que sejam capazes de expressar seu pensamento de forma clara e ágil. E ainda melhor se for de maneira jovial e bem humorada.
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Em suma, sou fechado? ... É, talvez um pouquinho, mas certamente não tanto quanto eu fui quando era mais jovem. A medida que fui amadurecendo, descobri que os outros tem defeitos muito parecidos com os meus .... aprendi a ser leniente comigo e com os outros! Isto me reconciliou com os meus irmãos de humanidade (e comigo mesmo) e perdi um pouco de minha timidez ... e até que, quando me empolgo, é difícil de me fazer parar de falar.
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3 comentários:

marianicebarth disse...

Adorei!
Ver que finalmente você levantou uma ponta do "véu" que cobre sua personalidade discreta e "introvertida, mas" ainda assim , "sociável".
E sabe de uma coisa? Tirando a sua invejável cultura, sou bem parecida.
Também penso que a compaixão é mais importante do que a inteligência, também admiro a fluência verbal, também me expresso muito melhor escrevendo.
Entendo perfeitamente que quando você diz "intimidade", certamente não está sugerindo
"nenhum eufemismo para me referir a um relacionamento sexual, apenas à necessidade de comunhão em pensamento, àquela cumplicidade de enfoque de vida que faz tanta falta ..."
Mas gostei muito de ver você se expor um pouco. Isso é ótimo! Um bom sinal de que tem confiança nos seus amigos comentaristas.

Continue assim. Essa linha honesta e corajosa dá margem a respostas verdadeiras e sinceras das pessoas que curtem você.
Aposto que terá mais pessoas querendo compartilhar dessa comunhão em pensamento.

amiga_caçula disse...

TAMBEM ADOREI!
EM PRIMEIRO LUGAR SOBRE A COMPAIXAO, IMPORTANTISSIMA PARA MIM NUM SER HUMANO.
COMO SOU IMPERFEITA, CHEGO A PERDER A PACIENCIA COM QUEM NAO A POSSUE.
EM VEZ DE ME CAUSAR PENA, ME TIRA UM POUCO DO SERIO!

ASSIM EXISTISSEM TANTOS PEIXES FORA D AGUA COMO VOCE, O MUNDO SERIA MELHOR!

O QUE A NICE POSSUE ENTAO, NAO E SOLIDAO, MAS A OUTRA PALAVRA QUE ESCREVEU.

PARA FINALIZAR, ENTENDO PERFEITAMENTE QUANDO DIZ QUE NECESSITA O CONTRARIO DO QUE HESSE PROPOE. POSSO DIZER O MESMO, JA QUE E PARA ABRIR A ALMA!

amiga_caçula disse...

Lembre-se que o teclado n'ao esta digitando certas coisas