segunda-feira, 4 de julho de 2011

Amor VII

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O problema maior com a palavra "amor" é que quer dizer um montão de coisas para as mais variadas pessoas e frequentemente, várias coisas ao mesmo tempo ... senão vejamos ...

Existe amor filial, maternal, fraternal, cristão, humanitário, etc ... Existe um amor pelas idéias e pelos ideais. Existe um amor devastador pelo conhecimento, pela beleza, etc .... Vamos excluir estes de nossa discussão, não que não sejam importantes, apenas vamos tentar nos focalizar sobre o que chamo de amor-eros, eros entendido em um sentido bastante genérico como o amor entre os dois sexos. (Eu estou - calculo - eliminando o amor homossexual desta definição mas este é muito complicado para mim : simplesmente admito não entender claramente)

Mesmo se limitando ao amor-eros, existem uma série de componentes envolvidos, atração sexual, amizade, objetivos em comum, apoio emocional, etc ... não poucas coisas ... e certamente não das mais simples ...

Lembro de um livro lido há uns 20 anos atras, do Rollo May (Love and Will) onde ele discute justamente o amor-eros. Começa com o sexo e atração sexual onde ele diz que é primário, instintivo, algo que morre em si mesmo. Fala em seguida do amor-gostar, o aspecto egocêntrico do amor. Fala do amor-paixão, aquilo que se nutre em si mesmo e quer cada vez mais do outro. Fala do ágape ou amor-amizade. Enfim fala do amor-doação que quer o bem do outro. Escrito de modo muito solto, embora com um poderoso embasamento psicológico.

Tratar de todos os assuntos do livro, seria exaustivo... apenas queria fazer uma contraposição entre o amor-sexo e o amor-paixão.

O sexo, a atração sexual é sempre o que vem em primeiro lugar. Não que seja o mais importante, mas o que chega na frente. Quando a gente conhece uma pessoa, é o aporte dos sentidos que funciona em primeiro lugar, o visual, o auditivo, o toque ... o resto vem mais tarde. Sexo é vastamente uma questão de instinto. Como a fome. Quando a gente acabou de comer, a gente não tem mais fome. Sem exagerar demais no paralelo, quando a gente acabou de fazer sexo, a gente deixa de ter vontade de sexo. Pode ter vontade e desejo de outra coisa - carinho ou bater papo, por exemplo. Mas não mais do sexo em si. É isto que Rollo May chama de "morrer em si mesmo". {Possivelmente, por isto, o zé povinho, em sua "sabedoria" instintiva associou a palavra "comer" à atividade sexual}

Sendo o sexo aquilo que é, ele necessita de variedade para manter o interesse ... a promiscuidade sexual não é algo tão-inatural assim .... Não quiz dizer louvável ou desejável para o relacionamento, apenas quis dizer que o instinto sexual para se manter aceso requer renovação constante, senão morre rapidamente o interesse e a atração. O que se chama de amizade colorida (nome estranho, não?) é uma relação baseada na atração sexual. Cessando a atração, cessa tambem a relação. Tipicamente, as amizades coloridas (se diz "ficar" hoje, não?) são relações muito curtas ...

Não é de estranhar portanto, que casamentos baseados em atração sexual durem tão pouco.

Paixão. Gamar como diz o zé povinho ... Ah, isto é diferente. Quanto mais se tem do ser "amado", mais se quer! É uma relação emocional intensa que se nutre e aumenta e se aquece com a presença do outro. Irracional? Sim, indubitavelmente, porque inclusive a pessoa apaixonada perde o senso crítico, não enxerga propriamente o outro, mas o sentimento que nutre por ele. Não vê o outro como é mas conforme a imagem que criou em sua mente!

Motivo de felicidade? Nem sempre.

Nunca o que se tem do outro é suficiente! Se quer cada vez mais. O outro é incorporado à nossa personalidade, passa a ser textualmente, a nossa outra "metade". Uma ausência, mesmo temporária, pode parecer uma perda emocional irreparável. Se apossa do outro, usa o outro como muleta. A paixão é extremamente possessiva e tende a sufocar o outro ... especialmente, se o outro não nutrir um sentimento recíproco de igual intensidade, o que soi acontecer ... Os ciúmes são um sintoma característico deste amor-paixão e bem se diz, que se a pessoa não sente ciúme, não tem mesmo uma real "paixão". E não tem mesmo!

Alias, neste tipo de relação, o sexo em si não tem nenhuma imensa importância ... vai acontecer, é claro, mais como uma celebração da posse/entrega do que pelo prazer que deriva do sexo em si! E sexo pode até vir a faltar, que a paixão continua ... exemplo típico é do amor romântico ou das novelas medievais!

Uma relação de amor-paixão costuma durar bem mais que uma relação de amor-sexo, mas pode ser psicologicamente altamente destrutiva ... não há casamento que aguente se for baseado neste tipo de sentimento.

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