segunda-feira, 4 de julho de 2011

Amor I

Dizia Sêneca que as palavras mentem ... Bom, se não mentem, pelo menos confundem ...

Tem coisas que são facilmente definíveis. Uma mesa é uma mesa. Haverá uma variedade de tamanhos, formas e propósitos .... mas ainda assim, existe um certo conceito relativamente estreito para incluir um objeto como mesa.

A coisa complica quando o objeto se torna mais complexo. Casa por exemplo. Que inclui desde uma tenda dos nômades no deserto a um igloo no polo, um barraco de favela e um palácio presidencial ...

Isto não é nada, quando comparado com conceito imateriais.

Amor é uma destas coisas.

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Veja lá : existe amor paterno/materno; existe amor fraterno; existe amor aos amigos (amizade); existe amor ao Saber; existe amor a Humanidade; existe o amor-caridade e amor-compaixão das grandes religiões; existe amor a Deus.

Existe amor entre homem-mulher. Que vai desde a simples atração física, passa pela paixão e as vezes, chega aos paroxismos da adoração e da obsessão. Em graus e doses variados. Mas que não dispensam uma certa amizade e camaradagem e uma boa dose de cumplicidade.

O que todas estas formas de amor têm em comum? Difícil de dizer. Fora que passam as eras e os homens continuam dizendo quão importante é, mesmo sem saber direito do que se trata!

Eu diria que uma grande parte é a componente sentimental (sentir-se em sintonia com a pessoa) mas é claro que existe uma componente emocional (gostar da pessoa) e uma componente volitiva (querer bem a pessoa) que é fundamental e que se manifesta em atitude e não fica só ao nível da emoção.

O amor busca a retribuição, não resta dúvida; mas para amar, não parece absolutamente necessário ser correspondido. O amor deveria ser coisa completamente altruísta e desinteressada ... mas existem muitas componentes egocêntricas nas diversas formas que o amor assume.

Gostar, p.exemplo. A gente gosta de chocolate porque ele nos proporciona satisfação e prazer. Do momento que o chocolate não nos proporciona mais prazer, a gente não gosta mais do chocolate. Patente, neste caso, que gostar é algo profundamente e radicalmente egoísta!

João gosta de Maria porque ela é bonita, satisfaz sua vaidade, lhe faz companhia, é agradável com ele, transa satisfatoriamente, lhe faz cafuné e lhe traz carinho e consolo, lhe dá suporte e incentivo, cuida dele e o ajuda, etc ... Não vou ficar enumerando porque uma pessoa pode gostar de outra, haverá mil razões. Mas o fato é que cessando uma ou mais destas razões, (por exemplo, quando a Maria fica velha e ranzinza) a pessoa deixa de gostar da outra, como se esta outra estivesse a lhe subtrair um direito. Quantos casos semelhantes a este você viu?

Porque gostar apenas, não é amar. E se o "amor" acaba, é provável que ele nunca existiu em primeiro lugar.

Amar é gratuito. Não precisa que o outro faça alguma coisa ou se comporte de alguma maneira. Uma mãe que ame realmente seu filho, vai amá-lo mesmo que ele seja um bandido ou que a maltrate ou que a ignore totalmente.

Inversamente, ninguém é levado a amar automaticamente o outro, só porque este outro o ama, goste dele e lhe tem devoção e dedicação ou o trate com mimos e fervor. Ao contrário, quando não é retribuído, o amor de outra pessoa pode ser algo muito importuno e ser causa de desprezo e desdém!!

E o grande drama advém justamente disto : a grande maioria das pessoas quando diz que busca o amor, na realidade, busca ser amado e não necessariamente, uma pessoa para amar. Daí, as frustrações, as dores, os desentendimentos, os sofrimentos, os desenlaces, as separações, os divórcios, etc ...

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