sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Hier encore

Tenho uma dmiração enorme pelo Charles Aznavour, tem músicas lindas, sabe cantar, mas acima de tudo tem letras humanas, profundas e originais. Os americanos tem músicas lindas tambem mas pecam por umas letras extremamente xaroposas, cheias de lugares comuns tipo "dream come true".

Vejam o exemplo abaixo, a tradução é minha e sempre vai perder um pouco sobre o original em francês mas guardo o sentido da coisa. Um verdadeiro poema.

Quem quer ouvir a música, pode usar
http://youtube.com/watch?v=UzBncolQjP0

Ainda ontem
Eu tinha vinte anos
Eu acalentava o tempo
E brincava com a vida
Como se brinca com o amor
E eu vivia a noite
Sem contar com os meus dias
Que se perdiam no tempo
.
Fiz tantos projetos
Que permaneceram no ar
Criei tantas esperanças
Que desapareceram
Que fiquei perdido
Não sabendo onde ir
Os olhos procurando o céu
Mas o coração abatido por terra
.
Ainda ontem
Tinha vinte anos
Eu esbanjava o tempo
Pensando retardá-lo
E para retê-lo
E mesmo ultrapassá-lo
Eu não fiz senão correr
E apenas perdi meu fôlego
.
Fazendo pouco do passado
Conjugando apenas o futuro
Eu centrava em mim
Todas as conversações
E dava minha opinião
Que considerava infalível
Para criticar o mundo
Com toda desenvoltura
.
Ainda ontem
Eu tinha vinte anos
Mas desperdicei meu tempo
Fazendo mil bobagens
Que não me deixaram, no fundo,
Nada de muito concreto
A não ser rugas na face
E o espectro do tédio
.
Pois meus amores morreram
Antes mesmo de existir
Meus amigos partiram
E não voltarão
Pela minha culpa, criei
O vazio à minha volta
E estraguei minha vida
E meus anos de juventude
.
Do melhor e do pior
Rejeitei o melhor
Paralisei meus sorrisos
E congelei meus prantos
Onde estão agora
Onde estão meus vinte anos?
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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Dançar abraçadinho ...


Ah! Coisa gostosa.

Pode ser até extemporanea ou anacrónica. Mas que era bom, era.

Na realidade, nem importava muito a música, bastava ser suave, nos embalava e a gente se deixava levar, naquele calorzinho vivaz e tranquilo que voluteava conosco, nos fazia esvoaçar em algo que excluia todo o resto, e que era uma promessa ou uma pre-estréia romântica.

Hoje, a dança é algo por demais manifesto, um prazer primário, ululante, de corpos que se esfregam ao invez de se acariciarem.

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terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Estar bem informado ...

Tenho um amigo M.C. que tem um enorme e maravilhoso coração. Ele não lê blogs, portanto fico tranquilo porque ele não vai ler o comentário que vou fazer.
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M.C. tem o hábito de ler diariamente dois jornais, o Estado e a Folha. E complementa sua leitura, lendo semanalmente Veja e Época.
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Não faço nada disto e ele observa (amavelmente) que ele me considera um tanto alienado e que ele não entende porque não faço um esforço para me manter bem informado.
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Bom, informações básicas e pragmáticas, eu acabo recebendo na TV e na Internet, (assim tipo : prazo de Imposto de Renda, abdicação do Fidel) embora vou convir que, assim mesmo, não lhes dedico nenhuma atenção mais entusiásitica, dificilmente passando dos títulos e cabeçalhos. Descobri que é o suficiente para sobreviver!
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Tenho esta noção, um tanto polêmica, sobre o que hoje se denomina de "indústria cultural" que inclui livros, jornais, TV, cinema, etc ... O objetivo desta tal indústria é justamente o objetivo de toda atividade econômica organizada : o lucro.
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No caso do jornalismo, especificamente, a estratégia para fazer lucro é fornecer algo que o grande público quer ler (ou ver) para garantir penetração e audiência. E, é claro, fazer isto ao menor custo possível.
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Exemplo : as notícias são em sua grande maioria repassadas das grandes agências de notícias, tipo UPI, AP, etc ... O jornal, raramente, "gera" o seu próprio noticiário com apoio de repórteres ou pesquisadores. Noticiário barato, sem preocupação de fornecer interpretações.
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Artigos de capa são frequentemente assuntos corriqueiros, de fácil absorção, que não acrescentam muita coisa ao cabedal do leitor.
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Ler jornal, para mim, não é uma forma de se manter BEM informado. Apenas uma maneira de se distrair e "matar o tempo".
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Não disse, em nenhum momento, que não é uma atividade agradável! Disse apenas que é uma ilusão achar que o jornal contribua para uma boa informação e certamente, é uma ilusão maior ainda achar que o jornal possa ter alguma missão de instruir.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Anotações sobre a Passagem do Ano.

Embora o Aurélio não menciona esta conotação, Passagem, enquanto acontecimento ou transição, também tem a ver com o rito especial de Iniciação. E com o conceito de passamento e morte..

Então, certamente existe uma evocação mística para a Passagem, mais especialmente a Passagem do Ano.

Desde os mais remotos tempos da Humanidade, e as primitivas culturas agrícolas do tempo do Neolítico, as religiões sempre tiveram um lugar todo especial para a Passagem do Ano. Os homens primitivos não podiam deixar de observar o ritmo cíclico da Natureza, inclusive por uma questão de sobrevivência. Não desconheciam os fenômenos dos equinócios e de sua importância para o planejamento das culturas e o começo dos trabalhos. Por isto, em muitos calendários de civilizações antigas (do hemisfério norte), o Ano começa em Março.

Tanto é verdade que o nosso calendário gregoriano também chegou a começar em Março, bastando observar os nomes de Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro, que então eram o sétimo, oitavo, nono e décimo mês. A influência da astronomia persistiu em todas as religiões inclusive a cristã. É um fato pouco divulgado mas a data da Páscoa é definida como sendo o primeiro domingo após a primeira lua cheia seguinte ao equinócio da primavera do hemisfério norte.

Voltando ao nosso tema principal da Passagem do Ano, existia o conceito que "a função dos deuses e a condição humana são regulados pelo mesmo ritmo cíclico (da Natureza)".

As religiões primitivas se concentraram em torno do "mistério do nascimento, da morte e do renascimento, identificado ao ritmo da vegetação". São religiões cósmicas centradas na concepção de que. "O Universo é ... um organismo que deve ser renovado periodicamente"
"Já que o Mundo deve ser renovado periodicamente, a cosmogonia será ritualmente repetida por ocasião de cada Ano Novo."

A idéia fundamental – renovação do Mundo pela repetição do ritual cosmogônico – é bastante difundida. Encontra-se não somente nas civilizações do Oriente Médio, na Índia védica, na Pérsia antiga, na Mesopotâmia, mas também sob as mais diversas formas, no Japão, na Austrália, nas tribos da América do Norte. E chegou até nós, através da Grécia Clássica.

Freqüentemente, as cerimonias anuais da renovação são associadas, enquanto conectadas à vida vegetal, ao culto da Árvore Cósmica ou Árvore da Vida, "suposta encontrar-se no Centro do Mundo’, unindo a Terra ao Céu. O mito da Árvore da Vida, também chamada de Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, é retomada na Bíblia. E persiste de diversas formas ao longo da História. Os antigos germanos de toda a Europa Setentrional tiveram o culto à Árvore Cósmica.

E os primeiros cristãos associaram a Cruz, "feita do madeiro da Árvore do bem e do mal e é identificada ou substitui a Árvore Cósmica". A Cruz foi chamada de Árvore do Mundo ou Árvore da Vida.

Não é apenas uma coincidência termos Árvores de Natal na época da Passagem do Ano.

Todas as citações são do Mircea Eliade - Hisória das Crenças e Idéias Religiosas.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Os monges




Evocação de um sonho






Arrastem seus passos
Velhos monges solitários
Com as faces e as almas enterradas
Em seus anônimos capuzes


Arrastem seus passos
No enorme deserto brumoso e enregelado
No enorme vazio branco onde
Seus nomes foram esquecidos

Arrastem seus passos
E junto com eles, seus corações empedernidos
Suas mãos paralisadas
E seus corpos já tornados infecundos

Arrastem seus passos
Privados até de sua humana desesperança
Rumando para a grande noite cinza
Sem futuro e sem sentido

Arrastem seus passos
Incapazes de parar seus pés e seu destino
Possuídos por um sacro e tenebroso pavor
De enfrentar suas próprias solidões.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Carta Natalina aos meus Amigos



Acho os Cartões de Festas de Final de Ano uma tradição muito bem estabelecida e bem educada mas também muito impessoal e recheada de chavões.
Aos meus Amigos, prefiro uma carta pessoal .

O que lhes desejo para 2008?
Para 2008 e para todos os outros anos que seguirem, é claro!


PROSPERIDADE.

Não necessariamente apenas dinheiro. A falta de dinheiro não é boa, é profundamente humilhante e desumana : que o digam os que moram debaixo das pontes e nas favelas. Por isto, como não quero ver meus Amigos nesta situação, desejo-lhes dinheiro suficiente para tocarem decentemente sua vida. Mas desejar somente dinheiro (que é algo muito prático – mas profundamente artificial), não conduz a nada de mais em termos de realização humana.

O que lhes desejo é que procurem sinceramente em seus Corações o que é importante para cada um de vocês e para os que lhes estão próximos. E que encontrem em si mesmos a Fé, a Vontade e a Força para conseguí-lo e fazê-lo acontecer.

É este tipo de Prosperidade que lhes desejo. Assim como lhes desejo o tipo de Felicidade que a acompanha naturalmente.

Dos meus Amigos, eu desejo e preciso um bom Pensamento para me ajudar na minha busca e um Abraço carinhoso.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Os Natais de Antanho


Os Natais de minha infância, no Egito, eram bem diferentes dos que vejo hoje.

Fui criado na religião católica, uma condição de uma minoria, em um pais majoritariamente muçulmano. Havia outros credos cristãos entre os estrangeiros radicados mas por serem também minorias, havia uma intensidade mais acentuada na conservação dos nossos rituais e na preservação de nossa identidade.

Lembro da Missa a que ninguém faltava, das visitas que a gente fazia aos familiares, do presépio e da árvore de cuja montagem as crianças participavam ativamente, ouvindo as estórias sobre o Nascimento do Menino Jesus, a visita dos Reis Magos, a Fuga da Santa Família e todas estas coisas que iluminavam minha imaginação de criança.
E do presente – único - que cada criança ganhava e que por isto era aguardando com uma enorme expectativa e esperança!

Todos estes rituais, o presépio, a missa ... mantinham uma certa aura de sagrado que considero fundamentais.

O consumismo de hoje, o excesso de propaganda banalizou muito do Natal .... que se tornou apenas mais uma oportunidade de nos fazer gastar dinheiro!

Hoje, o Natal perdeu uma enorme parcela de sua "religiosidade" no processo.

Há quem diga que Jesus nasceu 6 anos antes, no final de Setembro, que a Igreja mudou a data, por conveniência política, para combater as festividades do solstício (saturnálias), etc ... Sabemos que certas tradições, como da Árvore, em realidade nada mais são que um prolongamento (ou adoção) de tradições pagãs, como também a figura de Santa Claus ou a troca de presentes.

Mas não foi isto, em particular, que ajudou a perder a sacralização da data .... foi realmente o comércio o maior golpe.

Substituímos a Reinado do Menino Jesus pelo reinado de Maimon, o Deus-Econômico! O Espírito não tem mais lugar neste nosso mundo, onde o único deus é o deus do dinheiro, do lucro e da posse.

Os templos modernos são os shopping centers. E Jesus seria certamente preso se tentasse – como certamente, tentaria - debandar os mercadores dos "t"emplos, não é verdade?

Nossos filhos e nossos netos têm um incalculável quantidade de brinquedos, não sabem nada da data a não ser que é uma ocasião de festas, comilanças e de um monte de presentes. O que ganharam em quantidade e sofisticação, não substitui a magia e o encanto que havia nos Natais de antanho.

Quanto ao significado espiritual do Evento, se já não era muito divulgado na época, certamente desapareceu quase por completo hoje em dia.