segunda-feira, 18 de junho de 2007

J´ai plus de souvenirs ...

Beaudelaire é que dizia :"J´ai plus de souvenirs que si j´avais mil ans."!

Em toda honestidade, sinto um pouco de inveja das pessoas que têm uma facilidade de rememorar tantas coisas de seu passado, e são capazes de tirar de seu baú de lembranças, detalhes que me deixam atônito. Eu, as vezes, sinto como se tenha tido uma vida quase vazia. As memórias, elas não me voltam ... é como se minha vida fosse feita muito mais de esquecimentos do que de recordações!

Sim, sim, é claro, eu sei as datas e os grandes fatos de minha vida. Mas me faltam as imagens e os sentimentos atrelados a estes fatos. Tenho fotos, sim, mas é quase como assistir a um filme, sobrando aquela sensação de "exterior" por assim dizer, não algo que brota de meu íntimo.

Me incomoda um pouco, para dizer a verdade, mas não demais. Amo a vida ... e se minha vida não tem uma grande soma de passado, que fazer? Continuar feliz sem passado. Não é mesmo?

Tenho impressões difusas, mas nem por isto, menos vivazes. Por exemplo, tinha um amor todo especial pelo meu Colégio, no Egito (Collège Saint Marc). E dele, guardo a lembrança do grande respeito que eu tinha por um professor, Frère Lucien, do qual não consigo reviver nenhum traço, mas do qual recordo ser homem inteligente, íntegro e exigente que nos ensinou uma filosofia de vida impecável que me marcou até hoje e que, em tudo, nos estimulava a nos realizarmos enquanto seres humanos.

Tentei começar a escrever minha autobiografia (como um exercício psicológico) .... apenas para descobrir que era impossível alinhavar as minhas memórias. Neste sentido, eu sei pouca coisa a meu próprio respeito. Podem ser os primórdios do Alzheimer {risos!}, mas lembro de tão poucas coisas específicas a respeito de minha vida.

Da minha infância no Egito. Tem alguns registros escolares, algumas fotos, os relatos da minha mãe (hoje falecida). Mas isto não vale, isto não é memória original própria. Sobram realmente pouquíssimas imagens, algumas sem muito importância, alguns trechos de paredes de uma casa, uma praia, um pesadelo de doença infantil, a vista da janela de uma sala de aula que dava para o mar, a lembrança de alguns amigos mas hoje sem rosto e até sem nome, coisas assim.

Viagens fiz, de que não lembro nada e olhando a foto, só posso ficar perplexo de eu estar posando na frente de um monumento ou coisa assim.

Sim, lembro de coisas, como carros, de algumas viagens, de alguns poucos episódios, de alguns amigos específicos .... mas muito, muito mesmo, simplesmente desapareceu ... é como se nunca tivesse acontecido. Mas certas coisas, banais mas poderosas, voltam .... como por exemplo, o cheirinho gostoso da madeira entalhando no pirogravo.

Hoje, a rigor, minha biografia, consistiria das coisas que penso ou sinto, muito mais do que os eventos que aconteceram comigo. Não que considero minha vida extremamente banal, tenho afortunadamente uma boa vida, mas minha vida "interna" parece tomar uma grande precedência sobre o dia-a-dia, as viagens, as festas, os eventos ...

7 comentários:

caos e ordem disse...

Oi Turini, muita coisa interessante e curiosa.
Nossas individualidades, foi essa a razão de eu comentar para o Timtim, no blog da Nice, que ele não ia sentir nada do que a Nice sentiu lendo certo livro, isso que nos faz cada um ser maravilhoso, nossas paixões, nossas lembranças mais ou menos fortes.
Uns 30 anos atrás li uma pixação de muro muito gozadora mas inesquecível que dizia: "Eu tinha um defeito eu era convencido, agora eu sou perfeito".
Eu me sinto um pouco parecido com o cara dessa frase, sei dos meus defeitos mas me acho que sou muito privilegiado, principalmente pelas minhas crenças e modo de ver a vida, que são totalmente diferentes da maioria das pessoas.
Seu texto está muito bom e acho que é muito importante abrir um pouco sua alma e seu coração como fez agora.
digitou o Zecão

marianicebarth disse...

Turini, você acha pouco tudo que contou? Achei uma beleza! Não tenho certeza se você estava se referindo ao meu texto sobre minha tia-avó Juventina, que me criou desde os 18 dias de idade, então tornou-se minha mãe de fato, embora não de direito. Penso que se muito me recordo é porque minha vida foi bem traumática (e ponha traumático nisso!), mas os detalhes não quero publicar em blog, talvez o faça em uma autobiografia. Também não sei se terei coragem para tanto.

Antônio disse...

Caro
Considero você um cara bem inteligente e culto. Porém este seu diagnóstico sobre sua falta de lembranças me deixou encimesmado. Tenho uma teoria, várias vezes comprovada na prática que, quanto mais inteligente é a pessoa melhor é sua memória. Você quebrou minha teoria. Peço luz.

caos e ordem disse...

Pô Shiost, saca que são coisas do Freud. A memória pode ser ótima mas certas lembranças ficam no porão do inconsciente, no caso dele as reminiscências da própria vida.
digitou o Zecão

Polemikos disse...

Shiost, não conheço suficiente o assunto. Mas existem muitos tipos de inteligência. Por exemplo, existe inteligência "perceptiva", como dos vendedores ou dos jogadores de poquer. Rápida e superficial. E existe inteligência "investigativa" lenta mas profunda, como dos filósofos, cientistas e artistas.
Existem tambem muitos tipos de memória, como memória geográfica, memória para linguas. E existe a capacidade de guardar lembranças ou de recordar de sonhos.
Concordo que uma pessoa razoávelmente inteligente, terá uma dose razoável de memória.
Mas existem "gênios" mnemônicos que conseguem repetir uma sequencia de 50 números falada uma única vez, ou uma melodia nova e complexa tocada uma única vez, que até tem QI relativamente comum.

Uma grande memória (capacidade de armazenar dados) não significa necessariamente uma grande inteligência (capacidade de processar dados).

marianicebarth disse...

Eu não acho que você não se lembra, pois falou de várias coisas mas só deu os títulos dos capítulos. Isso quer dizer que, se você quiser E se interessar, vai conseguir se lembrar de tudo, sim, senhor! Acho que você sabe que tudo, mas tudo mesmo, está gravado em nosso subconsciente. É apenas uma questão de acesso. Você tem o "programa".

Anônimo disse...

Estou tentando dizer algo em seu blog (não me julgo uma comentarista) por convite da Nice que o admira muito.
Fora acreditar que nem sempre é bom recordarmos muitas coisas passadas (atualmente sou mais do presente) gostaria de acrescentar que uma das memórias mais marcantes é a do olfato. Alguém lembra do aroma das nossas lancheiras carinhosamente preparadas há tanto tempo atrás? Sinto até o cheiro do pão doce que a Geny (minha mãe número 2) colocava! O Meu marido é que me falou sobre essa memória olfativa!