sexta-feira, 1 de junho de 2007

Porque temos tanta violência hoje em dia?

Teorias não faltam, especialmente, tendências de cunho claramente sócio-econômico que levam a crer que a origem de nossos problemas está em fatores como a má distribuição de renda, a pobreza extrema a que a nossa sociedade condena irremediavelmente certos setores de nossa população, o aumento de desemprego e outros fatores desta espécie, tidos como formas de reação de ressentimento ou de desespero pela sobrevivência.

Não se deve desprezar estes fatores, são pungentemente reais e não resta a menor dúvida que, onde estiverem presentes, a violência apresentará índices maiores.

Mas reduzir a violência a uma forma de problema econômico me parece bastante ingênuo, tudo parecendo indicar que a origem da violência em nossa sociedade é algo de mais profundo.

Um dia destes, percorrendo o meu sistema de TV a cabo, à cata de algo interessante (para mim), fiquei, de repente, impressionado pela quantidade de programas que apresentavam alguma forma de violência, desde filmes ou seriados policiais, aventuras de guerra, notícias de guerra, assaltos, desastres, inclusive desenhos animados orientais e até agressões em campo de futebol e um anúncio de programa de lutas. Cheguei a me dar ao trabalho de um pequeno levantamento estatístico, concluindo que 30 dos 42 (71%) programas, naquele momento, apresentavam alguma forma de violência! Este índice não pode valer para nenhum trabalho acadêmico, pois não foi cercado de nenhum critério específico ... mas, para mim, naquele momento, me pareceu bastante evidente a influência da televisão sobre o estado da coisa.

Mas, logo a seguir, me lembrei de um psicólogo, por sinal em uma entrevista na própria televisão, que aventou não ser eventualmente tão ruim assim e que a violência na televisão talvez funcionasse como uma forma de catarse, uma maneira de botar para fora e satisfazer impulsos negativos, sem realmente executá-los no mundo real.

Sim, ele pode ter razão, em muitos casos, ... e não resta a menor dúvida que a televisão, cinema, gibis, vídeo games, etc ... , como cheguei a pensar, podem ser um estímulo à violência ... mas nem ele, nem eu chegamos ainda ao cerne do problema. Pois se a televisão agisse como catarse, não deveria estar havendo mais violência ... e se eu tinha razão, então deveria ter muito mais violência do que de fato, se observa.

Algo bem mais básico, e no fundo bem mais simples de considerar, é que a televisão é uma entidade econômica, destinada a fazer lucro e portanto, susceptível à grande regra econômica que é de agir de forma organizada e intencional para gerar lucro. E neste caso, a televisão vai atras de audiência e de dar ao público, aquilo que, ele, o público quer ver.

Então, longe de achar que a televisão tem algum intento satânico de divulgar e promover a violência, o mais provável é que a televisão apenas reflita algo que o público quer, deseja e procura. Alias, exatamente o que o psicólogo alegou quando se referiu a satisfazer impulsos negativos, sem executá-los.

Mas isto é algo inusitado que a maioria das pessoas negaria solenemente e poucos se atrevem a dizer abertamente que o público deseja ver e gosta de violência.

Um comentário:

marianicebarth disse...

Curioso eu estar lendo um livro póstumo de Mark Twain sobre essa atração da raça humana pelas guerras e pela violência. O livro chama-se O Estranho Misterioso e está tudo lá, a explicação, escrita pouco antes de Mark Twain morrer, aos 85, sozinho e amargurado.